SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 8 de setembro de 2015

Palavra Solta: varais e quintais


Rangel Alves da Costa*


Os varais são poesias de quintais. Nas casas onde ainda se dão o privilégio de possuírem quintais, os varais se tornam como cadernos para a escrita de muito. No sol ou na chuva, no calor ou no frio, na noite ou no dia, e eles ali estendidos à espera que uma roupa chegue para enxugar. Daí seu aspecto transformador, de renascimento, de renovação. O que chega molhado, pingando, não demora muito a secar depois de estendido. Então os varais se estendem ainda mais para permitir os voos e os esvoaçamentos. E tantas e tantas vezes se solta do pregador e sopra a roupa ao sabor do vento. E a ventania vai levando o pano com sua história. Não se sabe por que faz assim, principalmente com os lenços. Talvez haja uma explicação: os lenços chegam ali encharcados, ainda cheios de lágrimas, de aflições e sofrimentos, e não merecem ficarem simplesmente enxutos para ser novamente lavados na dor. Então é lhe dada a permissão para subir pelos ares, para sumir no passo do vento, para novamente ser grão noutro lugar. Assim a vida dos varais de quintais. Um lar de acolhida para os usos do dia, um suporte para pássaro em passagem. Mas principalmente para mostrar a solidão humana quando as roupas simplesmente são esquecidas e se embalam querendo voar. Ou simplesmente permanecem calmas e silenciosas relembrando os suores de ontem e temendo as agruras do novo dia.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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