Rangel Alves da Costa*
Os varais são poesias de quintais. Nas casas
onde ainda se dão o privilégio de possuírem quintais, os varais se tornam como
cadernos para a escrita de muito. No sol ou na chuva, no calor ou no frio, na
noite ou no dia, e eles ali estendidos à espera que uma roupa chegue para
enxugar. Daí seu aspecto transformador, de renascimento, de renovação. O que
chega molhado, pingando, não demora muito a secar depois de estendido. Então os
varais se estendem ainda mais para permitir os voos e os esvoaçamentos. E
tantas e tantas vezes se solta do pregador e sopra a roupa ao sabor do vento. E
a ventania vai levando o pano com sua história. Não se sabe por que faz assim,
principalmente com os lenços. Talvez haja uma explicação: os lenços chegam ali
encharcados, ainda cheios de lágrimas, de aflições e sofrimentos, e não merecem
ficarem simplesmente enxutos para ser novamente lavados na dor. Então é lhe
dada a permissão para subir pelos ares, para sumir no passo do vento, para
novamente ser grão noutro lugar. Assim a vida dos varais de quintais. Um lar de
acolhida para os usos do dia, um suporte para pássaro em passagem. Mas
principalmente para mostrar a solidão humana quando as roupas simplesmente são
esquecidas e se embalam querendo voar. Ou simplesmente permanecem calmas e
silenciosas relembrando os suores de ontem e temendo as agruras do novo dia.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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