Rangel Alves da Costa*
Jurei que não sofreria mais, ao menos pelo
olhar do passado. Mas impossível afastar-me da estrada quando todo o seu
percurso ainda é presença constante. Não há como fugir da lembrança, da
recordação e da presença do ido, quando o presente não se contenta em viver
senão com o álbum do passado aberto. Daí que de repente me vejo diante de
velhos baús, de retalhos, de memórias, de recortes e tudo aquilo cuja soma se
chama nostalgia e relembrança. Geralmente depois do entardecer, quando as cores
do horizonte começam a pincelar outros sentimentos, então me ponho ao
reencontro do inseparável. Não, não queria encontrar agora, mas eis que surge
uma fotografia antiga, em preto e branco, com um sorriso que já alegrou minha
alma. Não, não queria sofrer agora, mas no fundo do baú adormece a carta já
tantas vezes inundada de lágrimas. Apenas letras miúdas, apressadas, aflitas,
ao final dizendo que logo voltaria, pois estava morrendo de saudades. Não, não
queria padecer tanto agora, mas não posso deixar de avistar o velho diário de
capa grossa e letras douradas e lá dentro, página a página, recortes da
história familiar e demais histórias de um coração partido. Mas não adianta
fechar o baú. Seus cadeados não existem nas trancas, mas ao sabor do vento que
vem e esvoaça tudo. Talvez nem exista baú, mas apenas um coração nostálgico que
guarda e resguarda o percurso de vida como um livro bom, porém doloroso, que
precisa ser lido a cada dia. Nele a história, a vida. E tudo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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