Rangel Alves da Costa*
O atirador de facas e a mocinha alvo eram
atrações das mais prestigiadas e esperadas do circo. Formavam um casal. Além de
exímio atirador, ele também botava fogo pela boca e dava salto mortal das
alturas. Ela também oficiava como dançarina e trapezista. Contudo, a maestria
dos dois estava mesmo na arte de atirar e ser alvo das facas. Com mais de cinco
anos de experiência, a mocinha sua esposa nem temia mais qualquer descuido do atirador.
Contudo, um fato inusitado reverteu toda essa situação, eis que a mocinha traiu
o companheiro com o palhaço. Apenas uma vez, mas o suficiente para que os dois
fossem flagrados debaixo das lonas. O rapaz, quase não acreditando no que havia
avistado, preferiu silenciar para dar o troco mais tarde. E seria através das
facas. Chegando o momento da apresentação, após os dois serem anunciados, ele
conduziu a mocinha até a roda que servia de alvo móvel e enquanto prendia suas
mãos foi dizendo: “Você me traiu, eu vi. E hoje vou errar todas as facas que
atirar. E vai ser bem no seu corpo safado”. Ela quis gritar, mas, como parte da
apresentação, já estava com a boca vedada. Então ele deu passos para trás, foi
ajeitando as facas, se posicionando para começar a arremessá-las. Ela, sem
saber o que fazer e também sem nada poder fazer, apenas se agitava
freneticamente querendo se soltar. Uma cena tão dramática quanto lamentável. E
as pessoas aplaudiam euforicamente, imaginando ser tudo aquilo uma encenação.
Então ele levantou a mão para o primeiro arremesso, fez força, mirou e atirou.
E neste momento a luz do circo apagou e não se sabe como se deu o final.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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