Rangel Alves da Costa*
Foi-se o tempo da magia circense chegando às
povoações interioranas distantes. Bastava o anúncio no alto-falante em cima do
carro velho e a cidade desandava inteira na boa expectativa. “Vem aí o
Gran-Circo Realy. Brevemente nesta cidade os melhores malabaristas, as mais
bonitas rumbeiras, o palhaço mais engraçado do mundo, a mulher barbada, o
quebra-pedra no peito, o atirador de facas, o leão que fala e muito mais...”.
Na semana seguinte despontava toda aquela maravilha do mundo. Três dias após e
a armação estava completa. Uma verdadeira festa no interior. Ingresso inteiro,
meia entrada, pipoca, algodão doce, maçã do amor, tudo da lavra do próprio
circo. Mas o alardeado como grandes atrações parecia sempre ter ficado noutra
cidade. Apenas duas dançarinas, um palhaço sem graça, uma cobra de duas
cabeças, o botador de fogo pelas ventas, o atirador de facas e pouco mais do
que isso. Mas ao menos servia para iludir uma gente na desvalia do mundo. Hoje
nem circo se encontra mais. Tornou-se uma raridade encontrar uma pequena lona
armada nos arredores interioranos. Há até circo sem lona, apenas com o
picadeiro caindo de velhice. A principal dançarina, esposa do dono, pesando
quase oitenta quilos, um cachorro que usa máscara e peruca para dizer que é uma
aberração do outro mundo, um malabarista que só anda bêbado e um palhaço que
chora todas as vezes que se vê diante de uma família feliz. Perdeu a sua e foi
ser palhaço para fingir a dor.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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