Rangel Alves da Costa*
Você se recorda daquelas manhãs que após
abrir a janela lhe chegava uma vontade danada de voar?
Você se lembra daqueles doces e inusitados
instantes quando se sentia tão feliz e tão leve que parecia que voaria a qualquer
momento?
Você se recorda daqueles momentos bons,
espiritualmente confortados, quando após abrir os braços em direção ao céu se
sentia nas asas de um passarinho?
Você se relembra de estar tão bem
emocionalmente, com alma de pluma e espírito de brisa, que parecia sair de si e
subir radiante aos espaços?
Você rememora quando subiu à montanha e lá do
mais alto do alto olhou o mundo ao redor, nas suas belezas e distâncias, e teve
vontade de ser passarinho?
Você se recorda de ter acordado tão feliz e
disposta à vida que se comprometeu a ter um dia inteiro de grandes realizações
e máxima felicidade?
Você se lembra de que mesmo a tempestade
chegando, o tempo tristonho, as saudades persistindo para atormentar, a sua
face feliz não aceitava outra coisa senão o sorriso?
Você relembra quando de repente saiu em
correria para o meio da chuva e, com roupa e tudo, se fez aquela menina de
antigamente que sonhava com um momento assim?
Você recorda daqueles momentos onde as coisas
ruins ou pesarosas jamais conseguiam afetar seu desejo imenso de viver
plenamente seus instantes de felicidade?
Você se lembra de quando o espinho lhe feriu
o dedo e nem houve reclamação, quando a pedra machucou seu pé e não houve
qualquer demonstração de dor?
Você rememora quando alguém premeditadamente
quis ferir sua alma, fragilizar seu espírito, lhe atormentar o coração, e ainda
assim teve um sorriso como resposta?
Você relembra daquelas pessoas entristecidas
passando cabisbaixas, daqueles olhares vazios sem direção, daquelas faces
espelhando a dor, e o seu passo parecendo ter asas?
Você se recorda quando após a lágrima firmou
compromisso consigo própria de não mais chorar por coisas vãs, e depois disso
transformou o pranto em alimento do espírito?
Você rememora quando passeava pelo jardim e sentia
flor, quando andava pelos campos e sentia borboleta, quando avistava a beleza
da vida e parecia sonhar?
Você se lembra de quando sua mãe lhe disse
que depois da alegria sempre vem uma tristeza, e como observação apenas disse
que depois da alegria não teria depois?
Você se recorda quando diante da boneca de
pano houve juramento de que nunca iria crescer apara não sofrer e depois de
crescida ainda repete o mesmo à sua boneca invisível?
Você relembra de que seu velho diário está
cheia de frases como meu pássaro quer um horizonte, minha manhã quer um
colibri, meus dedos um dia escreverão poesia nas nuvens?
Você se recorda da última vez que intimamente
se confessou e disse a si mesma que caminhava nos passos da vida, mas seu
verdadeiro compromisso era com as estrelas?
Você se lembra de ter olhado para o alto e
diante de toda aquela grandeza e mistério permanecer por longo tempo em busca
da face de Deus?
Sei que não de tudo, mas de muita coisa você
se recorda. Relembra da felicidade ao encontrar a manhã ao abrir a janela, da
vontade de simplesmente voar sem destino, e de muito mais.
Você é ser humano e todo ser é predestinado a
buscar o melhor para si, para o seu viver, para a sua estrada. Eis que a pessoa
só se contenta com aquilo lhe traz contentamento e felicidade.
Você é pessoa, porém desejaria ser diferente.
Disso eu bem sei. Mas o pássaro que deseja ser não está distante. Então abra os
braços, agradeça a Deus pela vida, e voe. Voe bem alto, o mais alto possível.
Você tem pássaros na alma!
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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