Rangel Alves da Costa*
Fernando Pessoa disse que o Tejo é o rio mais
belo que existe, mas não é mais bonito que o rio que passa pela sua aldeia,
simplesmente porque o Tejo não o é rio que passa pela sua aldeia. Da poesia
tiro a lição: Minha aldeia, ainda que pequenina, é a mais bela que existe
porque é a minha aldeia. Aprendi no tempo a amar o singelo, aprendi na estrada
a reconhecer o valor das pequenas coisas. Não importa o que eu seja hoje, se
rei ou súdito, se soberano ou aldeão, se guerreiro ou campesino, pois a única
coisa que sou é ser menor que minha aldeia, a minha pequenina aldeia. O seu
riachinho passando pelos quintais é um mar sem fim, cada casebre é um suntuoso
palácio, cada vivente é o ser mais feliz deste mundo, cada amanhecer é a
paisagem mais bela. Dizem que mais atrás e mais na frente, pelos lados e mais
adiante, há um mundo bem diferente, com cidades grandes, asfalto, grandes
construções, moradias de luxo, pessoas vaidosas e egoístas. Temo que algum dia
a minha aldeia também deseje ser grande e colocar numa rua a feiura do negrume
do asfalto. Difícil imaginar a vida perdendo sua liberdade de apenas ser.
Enquanto o horizonte se avermelha e a última revoada corta os céus em poesia, o
povo de minha aldeia recolhe os restos do dia para colocar tudo num só coração.
Tudo cheirando a café torrado, a comida de fogão de lenha, a perfume bom
chegando na brisa. E quando adormece minha aldeia sonha. E quando sonha minha
pequenina aldeia sequer sonha em algum dia acordar para os desatinos do mundo
novo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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