Rangel Alves da Costa*
As raízes se resguardam escondidas, ao longe
do olhar e do passo que segue, porém nada que revele mais do que suas
ramificações. Nada existe sem uma raiz que sustente, que lhe dê suporte, que
diga de qual geração ou semente foi gestado. Sua importância é indiscutível,
mas sempre incompreendida pela ideia de que tudo é fruto ou filho apenas do
tempo presente. A verdade é que não há presente sem passado, não há criatura sobre
a terra que não tenha vindo de uma geração, não há tronco que não tenha nascido
de um pequeno grão, e este de grãos de outros grãos, e assim em diante. Aí as
raízes, os caminhos genéticos, hereditários, desde um passado distante. As
raízes estão desde os pais dos pais dos nossos pais, num percurso desde a raiz
primeira. As raízes estão nas distâncias, nos antepassados, nas sementes
primeiras que brotaram sobre a terra. As raízes estão no fogo, na terra, no ar,
no céu, em tudo aquilo que veio antes do homem e lhe permitiu um meio para
vingar e de sustentação. Meu avô era raiz, minha bisavó também, o mundo de
barro muito mais, a primitiva criatura muito mais ainda. E o que sou agora não
representa nada mais que uma partícula de um cosmo chamado passado. Sou apenas
a poeira dos antepassados e um pólen germinando o futuro. E quando me tornar pó
já terei deixado raízes da raiz que fui. Eis que meus filhos serão frutos de
uma árvore frondosa que não nasceu nem cresceu sozinha. Tudo da raiz primeira,
enraizando em nome da geração familiar e de antepassados que não se avistam
mais senão no sangue que corre nas veias.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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