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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Palavra Solta: flores na aridez


Rangel Alves da Costa*


Estive recentemente no sertão. De uma viagem para outra, e em pouco tempo, a paisagem já completamente transformada. A mataria, antes esverdeada, deu lugar a um cenário feio, acinzentado, seco, quebradiço. Significa dizer que a seca está novamente chegando de forma devoradora. Neste percurso, não vai demorar muito e tudo ficar na desvalia, na magreza, no gemido, no couro e no osso. Então o sertão se transforma na sua feição mais sofrida: bicho e homem ao desalento, planta e graveto numa só finura, folha e fruto tornados em pó. E é uma história que se repete sempre, infelizmente. O que avistei já foi suficiente para entristecer a alma e tornar mais pesaroso o olhar. Sou sertanejo e padeço o mesmo sofrimento dos conterrâneos que amargam os dias e as noites numa agonia sem fim. Contudo, um fato simples e corriqueiro me afastou do espanto com aquele cenário desolador. Eis que caminhando pelas estradas de chão, na terra nua, pedregosa e espinhenta, de passo a passo encontrava flores sublimes, singelas, encantadoras. Eram flores de cactos que brotavam das palmas espinhentas e se abriam em visões de sonho. Cactos rasteiros, de beira de estradas, conhecidos como jurubeba, faziam surgir um manto num misto de vermelho e alaranjado, adornado pelo verdume da planta, no contraste mais estarrecedor que podia existir. Mas tudo num só sertão: o cacto com sua bela flor e pelos arredores os gravetos de plantas mortas. Talvez a flor velando a dor ou a dor ainda suspirando na flor.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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