Rangel Alves da Costa*
Estive recentemente no sertão. De uma viagem
para outra, e em pouco tempo, a paisagem já completamente transformada. A
mataria, antes esverdeada, deu lugar a um cenário feio, acinzentado, seco, quebradiço.
Significa dizer que a seca está novamente chegando de forma devoradora. Neste
percurso, não vai demorar muito e tudo ficar na desvalia, na magreza, no
gemido, no couro e no osso. Então o sertão se transforma na sua feição mais
sofrida: bicho e homem ao desalento, planta e graveto numa só finura, folha e
fruto tornados em pó. E é uma história que se repete sempre, infelizmente. O
que avistei já foi suficiente para entristecer a alma e tornar mais pesaroso o
olhar. Sou sertanejo e padeço o mesmo sofrimento dos conterrâneos que amargam
os dias e as noites numa agonia sem fim. Contudo, um fato simples e corriqueiro
me afastou do espanto com aquele cenário desolador. Eis que caminhando pelas
estradas de chão, na terra nua, pedregosa e espinhenta, de passo a passo
encontrava flores sublimes, singelas, encantadoras. Eram flores de cactos que
brotavam das palmas espinhentas e se abriam em visões de sonho. Cactos
rasteiros, de beira de estradas, conhecidos como jurubeba, faziam surgir um
manto num misto de vermelho e alaranjado, adornado pelo verdume da planta, no
contraste mais estarrecedor que podia existir. Mas tudo num só sertão: o cacto
com sua bela flor e pelos arredores os gravetos de plantas mortas. Talvez a
flor velando a dor ou a dor ainda suspirando na flor.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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