Rangel Alves da
Costa*
Quase
todos os dias os jornais, rádios e televisões, noticiam ter um governante
afirmado que está trabalhando para a retomada do crescimento econômico, que
está trabalhando para trazer progresso à população ou mesmo que seu governo
está investindo para a melhoria de todos. Como se sabe, tudo isso não passa de
um jogo de palavras, tantas vezes de uma enganação. Mas por que se valoriza
tanto o blábláblá?
Abre-se o
jornal e lá está estampado: “Secretário de Segurança Pública afirma que está
investindo na diminuição da criminalidade”, ou ainda: “Os comerciantes de
pescado esperam boas vendas durante a Semana Santa”. E comumente se lê: “O time
do Jacarandá treinou com afinco em busca de vitória no próximo jogo”. São
informações que sequer deveriam ser publicadas ou noticiadas.
Ora, qual
governante vai dizer que seu governo não investe, que não objetiva o progresso
da população, que não passa de mais um que muito prometeu e pouco ou nada faz?
Qual o setor da segurança pública que vai deixar de dizer que a violência está
diminuindo e o combate à criminalidade está aumentando? Será que comerciantes
esperam vender pouco ou que um time de futebol se prepara para perder um jogo?
Nada igual
ao repórter esportivo que, à beira do gramado, entrevistando para milhares de
ouvintes, ainda tem a inteligência de perguntar ao jogador se o time está
preparado para vencer ou se espera fazer um bom jogo para sair vitorioso. Seria
bom que o jogador assim respondesse. “Não. A gente treinou a semana inteirinha
para chegar aqui e perder, para entregar o jogo. Eu também entro em campo
pensando em perder, pois todo jogador se esforça tanto para jogar mal”.
Na ânsia
de (des)informar, de vez em quanto o jornal repete entrevistas com a mesma
autoridade ou com algum especialista. Toda vez que assim acontece é um
desastre, pois a mesma pessoa geralmente acaba desmentindo a informação
anteriormente repassada. Acontece muito com meteorologista, cuja entrevista se
ajusta sempre ao clima que se apresenta no momento e não ao que afirmara e não
se confirmou. Se há dez dias a afirmação era de que não havia previsão de
chuvas para os próximos meses, e, se de repente começa a cair trovoada, então o
moço logo vem com aquela história de mudança nas correntes do oceano, avanço ou
recuo do El Niño, frente fria, etc. Tudo tentando desfazer o prognóstico dado.
Muitas
manchetes ou chamadas jornalísticas chegam a ser verdadeiramente escandalosas,
com erros de todos os tipos. Noticia-se que alguém foi a óbito e morreu, que
choveu granizo em pedras de gelo, que o time foi derrotado e perdeu o jogo, que
ladrões roubaram os caixas eletrônicos de um banco mas não conseguiram
assaltar. Erros grosseiros, redundâncias escabrosas, frutos de um jornalismo
despreparado, pequeno e semianalfabeto. Talvez a culpa esteja na ausência de
revisores ou na desculpa do calor da hora em que a notícia é produzida.
Por outro
lado, as ideologias e os partidarismos também acabam enlameando o jornal. Seja
grande ou pequeno. Torna-se insuportável ser leitor de um periódico que prega
liberdade de opinião e expressão e se autoafirma apartidário, mas na verdade
não passa de um folhetim vendido ou defensor de governos ou causas políticas. O
jornal no qual costumeiramente colaboro, por exemplo, de vez em quando deixa de
publicar textos meus que sejam críticos ao petismo.
E sei que
não adianta reclamar. Muitos jornais ainda sobrevivem das propagandas
governamentais ou das facilidades oferecidas pelo poder. Daí que não há nenhum
interesse em repassar uma informação, ainda que fidedigna, que possa
contradizer um governo, uma autoridade ou um poderoso. Neste caso, a censura se
internaliza de tal modo, que os próprios jornalistas e editores passam a ter o
papel de costureiros e maquiadores: passam a tesoura no que for preciso e
maquiam o que for necessário.
Assim é
feita nossa notícia de cada dia. E temos de beber do que nos é oferecido. Um
café amargo, mal feito e com o açúcar segundo a conveniência.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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