*Rangel Alves da Costa
Para
iniciar, com toda razão afirmar: o Velho Chico é sertão, o outro Velho Chico é
ficção. E nisto a certeza de que a ficção, por mais que se esmere em busca da
fidelidade, sempre se afasta da realidade. Por isso mesmo que o Velho Chico do
sertão é tão diferente do Velho Chico da televisão. A vida ribeirinha é repleta
de lendas, de costumes, de tradições, mas não de fantasias exacerbadas,
próximas ao realismo fantástico. A vida beiradeira é de luta, é de sofrimento,
é de suor e lacrimejar, mas não em pieguices e trejeitos sofridos que chegam ao
ridículo. A vida matuta das encostas e carrascais, das beiradas das águas e
montanhas, possui feição própria e reconhecível. É um povo de falar sertanejo,
arrastado, sem lidar com a gramática nem com a boniteza do verbo. Contudo, não
do modo que a novela tenta transmitir, como se o sertanejo do São Francisco
sequer soubesse falar. É um povo ao modo de Guimarães Rosa, com seu palavreado
próprio, com sua voz audível tanto pela terra como pelo bicho, mas uma palavra
tão bela que amansa em remanso o leito que passa lento somente para ouvir seu
irmão e seu filho: Velho Chico, meu São Francisco, me leva no seu colo, me faz
cafuné, me molha de lavanda que a moça bonita está esperando flor. E no seu
leito vou...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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