Rangel Alves da Costa*
Os
pássaros também ficam tristes, choram, sofrem. Os pássaros também sentem
saudades, relembram os seus, rememoram os amores, padecem em cada olhar ao
passado. Os pássaros também possuem lenços, possuem vidraças embaçadas, possuem
poesias no coração e epitáfios na alma. Os pássaros também agonizam, se
afligem, têm de suportar os desvãos e os desencontros da vida. Os pássaros
também silenciam e emudecem, também choram baixinho, também molham seus
travesseiros no ninho. Os pássaros também perdem o voo, perdem a esperança,
perdem a vontade de viver e amar. E por um desamor, por uma ingratidão, por um
abandono. Os pássaros também possuem tardes e entardeceres, noites e luas,
estrelas e nostalgias. Quase humanos, mas são pássaros. E muitos outros motivos
tornam os pássaros tristes. Uma canção dolente em cima de copa de árvore, um
madrigal na beira do ninho, pios nos escondidos das folhagens, eis as vozes que
expressam o instante da alma. Mas nada igual a voltar ao ninho e ter de
suportar a solidão dos dias e das noites. Ou a ameaça humana que lhe mira a
arma como se na presença de um inimigo. Quem dera o voo assim que a tristeza
chegasse, quem dera as alturas todas as vezes que a aflição batesse à porta.
Possui asas, mas nem sempre consegue voar perante os desatinos.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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