SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 11 de abril de 2016

Palavra Solta – no sertão


Rangel Alves da Costa*


Publicação de hoje, dia 11, mas palavras de ontem, domingo. Estou no sertão, precisamente em Poço Redondo, na aridez sergipana do São Francisco. Aqui o autêntico significado e contexto do que realmente se chama sertão: seca, calor, sol queimando desde as primeiras horas do dia. A cidade se esconde do sol, o povo se recolhe de suas agruras. O Velho Chico não dista mais que quatorze quilômetros. Nas suas margens, além das belezas naturais, o reencontro com a história e com o próprio leito que foi a primeira estrada de toda a região sertaneja. Mas poucos são os que se deslocam até às ribeiras e suas águas mansas. O povo é pobre e poucos são aqueles que possuem carros próprios. Chácaras e sítios se avolumam pelos arredores da cidade. Nas panelas, certamente uma galinha de capoeira, um guiné, um capão gordo. No copo uma bebida qualquer. Das porteiras em diante, as estradas de chão batido, os caminhos poeirentos e cheios de pedras e espinhos. Mandacarus, xiquexiques, palmas, catingueiras, árvores amigas da seca, tudo moldurando as paisagens. Uma casinha de barro batido, um casebre abandonado, alguém tange um bicho, uma solidão que pontua a cada passo. Caminhando, avisto o que restou do passado, a igrejinha reformada, os túmulos ao redor. A terra sertaneja acolhendo seus mortos. E a vida ao redor passando em mansidão, até que a terra transforme tudo em silêncio.


Poeta e cronista
Blograngel-sertao.blogspot.com

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