Rangel Alves da Costa*
Publicação de hoje, dia 11, mas palavras de
ontem, domingo. Estou no sertão, precisamente em Poço Redondo, na aridez
sergipana do São Francisco. Aqui o autêntico significado e contexto do que
realmente se chama sertão: seca, calor, sol queimando desde as primeiras horas
do dia. A cidade se esconde do sol, o povo se recolhe de suas agruras. O Velho
Chico não dista mais que quatorze quilômetros. Nas suas margens, além das
belezas naturais, o reencontro com a história e com o próprio leito que foi a
primeira estrada de toda a região sertaneja. Mas poucos são os que se deslocam
até às ribeiras e suas águas mansas. O povo é pobre e poucos são aqueles que
possuem carros próprios. Chácaras e sítios se avolumam pelos arredores da
cidade. Nas panelas, certamente uma galinha de capoeira, um guiné, um capão
gordo. No copo uma bebida qualquer. Das porteiras em diante, as estradas de
chão batido, os caminhos poeirentos e cheios de pedras e espinhos. Mandacarus,
xiquexiques, palmas, catingueiras, árvores amigas da seca, tudo moldurando as
paisagens. Uma casinha de barro batido, um casebre abandonado, alguém tange um
bicho, uma solidão que pontua a cada passo. Caminhando, avisto o que restou do
passado, a igrejinha reformada, os túmulos ao redor. A terra sertaneja
acolhendo seus mortos. E a vida ao redor passando em mansidão, até que a terra
transforme tudo em silêncio.
Poeta e cronista
Blograngel-sertao.blogspot.com
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