Rangel Alves da Costa*
Depois que
a lua passeia e o silêncio toma conta de tudo, então é hora de fechar a porta
do casebre. Mais uma oração, pois são muitas durante o dia, deita-se para o
repouso do cansaço do dia. Já está em pé quando o galo canta, bem antes disso.
Ainda é negrume quando o pé alcança o chinelo e depois segue em direção ao
oratório no canto do quarto. Ainda silêncio, não há barulho de chuva ou
ventania. Um dia qualquer, sempre imagina. Vai em direção à cozinha e abre a
porta. O quintal ainda é uma sombra, apenas. As aves começam a se alvoroçar e a
descer dos poleiros. O galo, enfim, canta seu despertar. Olha para o alto e
avista um céu sem novidades. Mira o horizonte e não enxerga nenhuma barra
avermelhada como esperança. Mais um dia sem chuva, é o que lhe surge ao
pensamento. Com uma cuia, cata um resto de água do fundo de um pote e vai
jogando por cima das ervas medicinais, das plantinhas de cura. Traz o feixe de
lenha e espalha a madeira pelo fogão. Coloca a chaleira, derrama o pó do café e
vai atrás de um toucinho de porco. As cores da manhã já estão sobre a paisagem,
a natureza faz festa, os bichos passeiam de lado a outro. Liga um radinho de
pilha e uma velha canção sertaneja pontua: O cheiro da terra é doce oração, a
presença divina no meu coração, pois me alegra viver no humilde sertão...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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