Rangel Alves da Costa*
Desconheço
um só escritor que dome completamente sua escrita. Não tem jeito. Mesmo com
ideia formada, com imaginação acabada do que vai ser escrito, ainda assim as
palavras tomam seu próprio rumo. Sim, há um norteamento, uma ideia sequencial,
mas tramas paralelas passam a surgir assim que as palavras queiram. E sempre
querem. Basta uma frase e sua explicação ou contexto já provoca aquilo que não
estava pensado. Se o escritor não tiver cuidado, mais adiante já estará
contando uma história totalmente diferente daquela prevista. Quando as
novidades enriquecem, tornam ainda mais expressivas os panos de fundo e suas
margens, ainda bem, pois haverá reformulação aceitável e até mais apaixonante.
Contudo, poderá ser perdido se o novo empobrecer o plano original. Ocorre muito
em novelas, quando o autor de repente se vê num labirinto sem conseguir domar
sua história. Então, do meio para o fim nada mais restará da ideia original.
Por isso é preciso muito cuidado, vez que as palavras confrontam o escritor e
começam a ter vida própria. E toda vez que assim acontece não há como limitar
sua ação. Ou refaz tudo ou vai remendando. Com a obra pronta, a não aceitação
pelo leitor terá como culpado o autor. Quando, na verdade, ele foi apenas refém
das palavras.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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