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segunda-feira, 4 de abril de 2016

Palavra Solta - a teimosia das palavras


Rangel Alves da Costa*


Desconheço um só escritor que dome completamente sua escrita. Não tem jeito. Mesmo com ideia formada, com imaginação acabada do que vai ser escrito, ainda assim as palavras tomam seu próprio rumo. Sim, há um norteamento, uma ideia sequencial, mas tramas paralelas passam a surgir assim que as palavras queiram. E sempre querem. Basta uma frase e sua explicação ou contexto já provoca aquilo que não estava pensado. Se o escritor não tiver cuidado, mais adiante já estará contando uma história totalmente diferente daquela prevista. Quando as novidades enriquecem, tornam ainda mais expressivas os panos de fundo e suas margens, ainda bem, pois haverá reformulação aceitável e até mais apaixonante. Contudo, poderá ser perdido se o novo empobrecer o plano original. Ocorre muito em novelas, quando o autor de repente se vê num labirinto sem conseguir domar sua história. Então, do meio para o fim nada mais restará da ideia original. Por isso é preciso muito cuidado, vez que as palavras confrontam o escritor e começam a ter vida própria. E toda vez que assim acontece não há como limitar sua ação. Ou refaz tudo ou vai remendando. Com a obra pronta, a não aceitação pelo leitor terá como culpado o autor. Quando, na verdade, ele foi apenas refém das palavras.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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