Rangel Alves da
Costa*
Como tudo
tem data para ser comemorado, a exemplo do dia do perdão (18/09), dia da paz
mundial (01/01), dia da liberdade (23/01) e dia dos mortos (02/11), hoje se
comemora o dia do beijo. Até uma data bonita: 13 de abril, dia do beijo. E na
maioria das pessoas, principalmente as mais jovens, logo vem à mente o lábio
encontrando outro lábio para a expressão de algo especial.
Sobre o
beijo muito já escrevi. Talvez a inexperiência em beijar, tenha-me conduzido a
divagações descabidas ou imaginações puramente poéticas. Também não é fácil
falar sobre o beijo do outro, seu intencionalidade e sua recompensa, e assim
porque beijar é experiência única que somente aquele que beija pode traduzir.
Mas comecei fazendo algumas indagações, a seguir transcritas, seguidas de
considerações mais ou menos beijadas.
O que será
mesmo o beijo, hein? Por que esse toque de lábio a lábio, ou de lábio na face
ou na mão, tem o poder de entorpecer, de encantar, de tornar a vida numa junção
de paz e felicidade? Os animais se tocam, se bicam, se buscam através de suas
bocas e nunca foi registrado um grito de dor após um beijo de amor.
Tão
sublime, suave e encantador é o sincero beijo, que nele se aperfeiçoa todo o
amor sentido, todo o querer, todo o prazer, todo o mistério do afeto amoroso.
Verdadeiramente, não há quem não saía um pouco de si, que não viaje, não voe,
não se perca diante do sabor calorento, do toque macio, do arrepio que causa o
lábio e sua culpa.
Doce é o
percurso, o procedimento, o proceder. Um tão esperado e desejado encontro, um
olhar de mar de gaivotas, um sorriso da melhor estação, uma carícia de pássaro
e flor, um toque de leve onda, um abraço levemente apertado, a boca, a outra
boca, o beijo...
Nenhuma
ciência, nenhuma máxima sabedoria filosófica, nenhuma suposição ou hipótese tem
o poder de alcançar a gênese conceitual do beijo. O que os livros dizem são
fruto do pensamento e não do beijo em si, daí sua incompletude diante da força
expressiva do beijar.
Os livros
dizem que o beijo é o ato de chegar os lábios a alguém, tocando-os
sentimentalmente; é a ação e resultado de aproximar os lábios, com leve sucção,
em pessoa e em sinal de estima, amor, carinho, respeito etc. É o contato dos
lábios perante outra pessoa, por amor ou afeto. Nos lábios de outra pessoa, o
beijo é tido um símbolo de afeição romântica ou de desejo sexual.
Não se
trata aqui de ósculo, que é o beijo dado para selar amizade ou compromisso, nem
do denominado beijo de língua, lambido e sugado, que é aquele tomado de forte
conotação erótica, não se contentando no toque dos lábios e praticamente
adentrando na boca do outro. Não, pois o beijo aqui revelado é aquele
indefinível pelo significado amoroso que possui.
Quantas
vezes já nos deparamos com cenas ou imagens de alguém que de repente, numa
atitude solitária e de sentimento indefinido, leva o dedo à boca, por cima do
lábio, e singelamente toca-o como relembrando o sabor e o calor de outro lábio
que ali esteve em inesquecível visita?
Quantas
vezes, principalmente em dias de chuvas e de saudades, o lábio entristecido vai
de encontro à vidraça embaçada e lá deixa o seu beijo talvez à espera do outro
lábio do outro lado? E os beijos com batom na mesma vidraça em dias
ensolarados? E quantas vezes o espelho do quarto foi abraçado e beijado, e não
num beijo em si mesma, mas no imaginário lábio que se reflete além?
Todas
estas situações são de grande importância para se buscar compreender o beijo,
seu significado e alcance. Em cada situação observada houve um gesto sublime,
de doçura, de encantamento. E assim é o beijo. Para quem ama, o beijo dado e
correspondido, sentindo nele uma pacto de felicidade e contentamento, nada mais
é do que o sorriso do coração.
Se a
saudade dói, a ausência machuca, a distância remói por dentro, então resta
trazer a boa recordação através daquilo que de tão sublime e forte tem o poder
de fazer o outro presente. Presente no lábio, na lembrança do beijo, na doçura
do beijo, no calor que sentiu, no extasiamento que ele passou, na vontade de
ter o outro ali para o diálogo do lábio.
Lembrar-se
do beijo, além de lembrar-se de alguém, é dançar a valsa de plumas, de brisa,
de cor azul; é ouvir uma magistral sinfonia, tocar no violino do coração,
seguir os passos da sonata em si maior. Beijo é poesia maior, é brilho nos
versos, é rima cadenciada ao calor do toque que se corresponde. Se a boca
descrever sobre o beijo, o lábio que inicia não se abre para citar o final.
Só mesmo
beijando para sentir tudo isso. Mas somente amando para sentir tudo isso num
beijo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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