*Rangel Alves da Costa
Sertão é
terra de sol, de fogueira abrasando, de coivara queimando tudo, de calor
insuportável. Sem chuva, sem nuvem prenhe, sem horizonte animador, uma tristeza
infinda se abate sobre o homem, o bicho, a planta, a terra. Há fome, há sede,
há sequidão, há gemido de dor, há costela aparecendo onde havia um resto de
pele. O preá desapareceu, a nambu e a codorna também sumiram, o veado e o teiú
se não existem desde muito, do mesmo modo com o peba e o tatu. Sertão é
deserto, é terra desolada, é descampado nu e desfolhado. A vegetação nativa se
ajoelhou, se quedou diante do sofrimento, só restando o mandacaru, o
xiquexique, a palma, o facheiro, a urtiga, a cansanção. O riacho não tem sequer
água de cacimba, o tanque se tornou em barro duro, as barragens ficaram de
bocas abertas à espera de pingo d’água. Desde o alvorecer e já o fogaréu avança
sobre tudo, o bicho chora, o menino também, o homem se apega à prece, mas tudo
sem valia de nada. E assim mais um dia, mais outro e tantos outros, desde que a
natureza fincou seu experimento mais doloroso: a seca. E na eternidade o
sofrimento de um povo e uma região relegada ao esquecimento e ao abandono de
tudo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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