SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 20 de abril de 2016

Palavra Solta - terra de sol


*Rangel Alves da Costa


Sertão é terra de sol, de fogueira abrasando, de coivara queimando tudo, de calor insuportável. Sem chuva, sem nuvem prenhe, sem horizonte animador, uma tristeza infinda se abate sobre o homem, o bicho, a planta, a terra. Há fome, há sede, há sequidão, há gemido de dor, há costela aparecendo onde havia um resto de pele. O preá desapareceu, a nambu e a codorna também sumiram, o veado e o teiú se não existem desde muito, do mesmo modo com o peba e o tatu. Sertão é deserto, é terra desolada, é descampado nu e desfolhado. A vegetação nativa se ajoelhou, se quedou diante do sofrimento, só restando o mandacaru, o xiquexique, a palma, o facheiro, a urtiga, a cansanção. O riacho não tem sequer água de cacimba, o tanque se tornou em barro duro, as barragens ficaram de bocas abertas à espera de pingo d’água. Desde o alvorecer e já o fogaréu avança sobre tudo, o bicho chora, o menino também, o homem se apega à prece, mas tudo sem valia de nada. E assim mais um dia, mais outro e tantos outros, desde que a natureza fincou seu experimento mais doloroso: a seca. E na eternidade o sofrimento de um povo e uma região relegada ao esquecimento e ao abandono de tudo.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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