SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 22 de abril de 2016

Palavra Solta - ouço o silêncio, vejo a solidão...


*Rangel Alves da Costa


A tristeza. Ouço o silêncio, vejo a solidão... Não será a tristeza traduzida em si mesma? Eu queria avistar alegria, palavra, contentamento, gente andando de canto a outro, menino brincando, cachorro latindo, gato correndo, bicho berrando. Mas nada disso acontece. Apenas uma paisagem acinzentada, na beira de uma estrada, e dentro da moldura um casebre de cipó e barro. Talvez a seca, talvez a fome, talvez a sede. Ou talvez o desemprego, a desesperança, o abandono. Passei ao entardecer e já o mundo em penumbra, triste, velado, em sentinela. Retornei ao anoitecer e apenas as sombras daquele retrato. Nenhum candeeiro aceso, nenhuma vela iluminando, nenhuma palavra. Porta e janela fechada, nada ao redor, apenas o silêncio e a solidão. Pensei em ir até lá e bater à porta, chamar, seguir até o quintal, observar mais atentamente. Mas sei que não ria adiantar. Tantas vezes os cemitérios possuem mais vidas que os pobres casebres de beira de estrada. Mas na minha mente não se apagam as visões de Maria, João, Toniquinho e Cicinha. Sei que eles existem. E eles são dali. Mas a noite recobre os vultos inexistentes e já não resta gás no candeeiro. Tudo escurece de vez em quando. E resta somente o silêncio e a solidão.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: