*Rangel Alves da Costa
A tristeza.
Ouço o silêncio, vejo a solidão... Não será a tristeza traduzida em si mesma?
Eu queria avistar alegria, palavra, contentamento, gente andando de canto a
outro, menino brincando, cachorro latindo, gato correndo, bicho berrando. Mas
nada disso acontece. Apenas uma paisagem acinzentada, na beira de uma estrada,
e dentro da moldura um casebre de cipó e barro. Talvez a seca, talvez a fome,
talvez a sede. Ou talvez o desemprego, a desesperança, o abandono. Passei ao
entardecer e já o mundo em penumbra, triste, velado, em sentinela. Retornei ao
anoitecer e apenas as sombras daquele retrato. Nenhum candeeiro aceso, nenhuma
vela iluminando, nenhuma palavra. Porta e janela fechada, nada ao redor, apenas
o silêncio e a solidão. Pensei em ir até lá e bater à porta, chamar, seguir até
o quintal, observar mais atentamente. Mas sei que não ria adiantar. Tantas
vezes os cemitérios possuem mais vidas que os pobres casebres de beira de
estrada. Mas na minha mente não se apagam as visões de Maria, João, Toniquinho
e Cicinha. Sei que eles existem. E eles são dali. Mas a noite recobre os vultos
inexistentes e já não resta gás no candeeiro. Tudo escurece de vez em quando. E
resta somente o silêncio e a solidão.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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