*Rangel Alves da
Costa
Desde os
seus primórdios que a Igreja vem sendo perdoada nos seus erros, nos seus
abusos, na sua cumplicidade e conivência. Quando não totalmente perdoada,
simplesmente tratada com um respeito não proporcional aos agravos cometidos.
Trata-se de uma instituição e não de um céu, trata-se de uma entidade formada
por pessoas e não por anjos e santos. As divindades que lhes servem de escudo
certamente não comungariam com algumas de suas práticas. Oremos.
A História
testemunha o quanto a Igreja impôs, perseguiu e matou. É a guardiã dos
ensinamentos sagrados sobre a terra, mas tantas vezes se distanciou da
santidade quando o assunto era a defesa de seus próprios interesses e de seus comandantes.
A Santa Inquisição e As Cruzadas, dentre outros acontecidos, não deixam mentir.
Em nome e por ordem da Igreja muita vida foi ceifada por navalha afiada e muita
gente abrasou na fogueira inquisitorial. Existe o mal em nome da boa causa?
Quantas e
quantas vezes a Igreja vendeu, por valores inestimáveis, seu assento papal a integrantes
de famílias romanas? Alguns papas, mesmo sem jamais terem sido sequer
coroinhas, simplesmente foram levados ao altar de Pedro. E tudo por
conveniência econômica, por lucratividade, por interesse de alguns de seus
membros. Ora, uma instituição que vendia indulgência, algo como uma carta de
remissão de pecados, hoje em dia nada pode dizer das vergonhosas práticas de
pastores de outras igrejas.
Como já
dizia o outro, a verdade é que a igreja nunca foi santa. Até mesmo a Bíblia
afeiçoa-se a uma imposição desrespeitosa a outros textos sagrados. Muitos
evangelhos foram simplesmente ignorados ou mandados à fogueira simplesmente
porque não se amoldavam aos preceitos defendidos pela sua cúpula. Livros
ignorados dão conta de outra vida de Jesus, mais humanizada, mais presente no
mundano. Maria Madalena se apresenta como mulher importante e influente na
nascente religião, e que, talvez, tivesse tido um relacionamento mais íntimo
com Jesus. Mas isso pareceu não possuir interesse algum para a Igreja.
Indubitavelmente
que Igreja é, no mínimo, contraditória. E se contradiz em atos, palavras e
ações. Ora, prega a caridade, a humildade, o voto de pobreza, a vida na mais
singela simplicidade, mas se compraz em adornos, em luxos, em ostentações. Nos evangelhos
não consta que os apóstolos pregavam com vestimentas adornadas, suntuosas,
bordadas a ouro. O próprio Cristo negou que a palavra fosse menor que a
ostentação para poder ser ouvido. Não se admite, pois, que se pratique o que
tanto se combate.
O
Vaticano, por exemplo, possui riqueza inigualável. Talvez não haja outro palácio
no mundo que guarde tantas e valiosas preciosidades. São coroas, joias,
relicários, adornos, tudo em ouro maciço ou ornadas das pedras mais preciosas.
São quadros, estátuas, desenhos, esculturas, manuscritos, cujo valor se tem
como inestimável. Logicamente que nada disso está à venda ou possa ser vendido,
pois da Igreja e não de qualquer papa, mas tal suntuosidade já demonstra a grandeza
material que possui.
Mas, para
o mundo exterior e perante os fiéis, o materialismo é pregado como verdadeiro
pecado original. Sem falar no Banco do Vaticano (Instituto para as Obras de
Religião), em cujos cofres há tanto dinheiro que nem os escândalos envolvendo o
seu nome diminuiu o seu poder. Atualmente, é terminantemente proibido divulgar
quanto dinheiro o banco possui e quanto coloca em circulação. Algo muito estranho
para uma instituição religiosa e que administra as contas dos principais
clérigos.
E há um
erro gravíssimo continuando sendo praticado pela Igreja, mas que,
historicamente, apenas palavras e promessas, mas poucas ações efetivas procuram
resolvê-lo. Diz respeito à pedofilia. Ao impor voto de castidade aos religiosos,
impedindo o casamento dos sacerdotes, acabou cerceando uma sexualidade que não
se apaga por ordenamento algum. Por consequência, os impulsos carnais surgidos
são geralmente voltados para jovens indefesos ou de fácil manipulação. Quer
dizer, a própria Igreja criou um problema para si mesma.
E problema
este que nunca é combatido a contento. Mesmo que as provas de práticas
pedófilas sejam muitas e incontestáveis, a Igreja tudo faz para proteger os
seus, através de processos internos que duram uma eternidade e nem sempre
produzem resultados. Enquanto isso, as práticas continuam estampando os jornais
e o papa apenas pedindo desculpas e prometendo punições. Quer dizer, enquanto
se aparenta preocupação, a pedofilia continua reinando como um subterfúgio à
castidade sacerdotal.
Contudo,
há de se dizer que a Casa de Pedro santifica-se por si mesma. A religião em si
não tem culpa pelos que a professam e se dizem pastores de seus evangelhos.
Ademais, a fé está na religião e não na Igreja.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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