Rangel Alves da Costa*
Primeiro pergunto: O que faz, onde age, o que
interessa ao Ministério Público atuante na Comarca de Poço Redondo? Depois
responderei por que fiz tal indagação.
Outra pergunta: O que faz a administração
municipal de Poço Redondo, através de seus agentes, pensar que está acima dos
mesmos direitos das pessoas comuns? Será que acha que pode tudo por que fazem
parte do grupinho dos amigos do prefeito?
Outra pergunta que não quer calar: Por que o
prefeito, com mesa no mesmo local onde estava reunido o seu grupo de amigos,
foi conivente com o tratamento diferenciado que seu grupo se impôs, como se
quisesse dizer que aqui está o poder que tudo pode e a ralé que fique calada.
Nada disso tem a ver com o Ministério
Público, mas chegarei lá. Porém, voltando às outras questões, finalmente
pergunto: Por que nenhum cidadão comum de Poço Redondo ou visitante podia
entrar no espaço do evento com cerveja, garrafa, vodca ou uísque, e a mesa do
poder municipal foi sortida, nas duas noites, com bebida trazida de fora?
Ora, ouvi de um conterrâneo que foi impedido
de entrar com latinha de cerveja à mão. Para não ter de jogar fora, resolveu
ali mesmo virar tudo num gole. Raiva danada. E com razão. Razão porque sabia
que as mesas do poder, logo nas proximidades do palco, estavam repletas de
bebidas caras e todas com passagem permitida por aqueles mesmos que impediram a
entrada da latinha de cerveja.
Será que o poder pode tudo? Em Poço Redondo
pode, foi comprovado assim. Não há como pensar diferente. Infelizmente ainda
existem pessoas que se revestem do poder administrativo, que se amparam na
fraqueza ou na conivência do prefeito, para mandar e desmandar.
Quer dizer, são pessoas que constroem um muro
bem ao lado daqueles que no passado foram seus eleitores, que os fizeram chegar
ao governo municipal imaginando que seria um voto de valia. Não só um
desrespeito total à população como uma atitude bem ao modo das ditaduras,
tiranias, governos escravocratas.
Mas o povo não é o verme que o poder imagina.
Aliás, quando pisado, todo verme se revira. Ora, ninguém nasceu pra ser
achincalhado, humilhado, pisoteado. Por isso mesmo que quando o prefeito foi
chamado ao palco e o cantor pediu aplausos, não se ouviu qualquer gesto de
gratidão. Pelo contrário, as vaias irromperam pela Praça de Evento.
Como diz Gonçalves Dias, meninos eu vi! Eu
estava lá e vi. Não só vi como ouvi. E o que repetidamente ouvia me deixava
estarrecido. E depois fiquei sabendo da indignação do povo contra fatos
ocorridos naquela festa, principalmente o fato de ter de pagar vinte reais para
entrar e a todo instante o locutor, cantores e cantores, repetiam a mesma
ladainha: “Muito obrigado ao prefeito Roberto Araújo pelo patrocínio deste
evento...”, “Muito obrigado à prefeitura municipal pela organização e
patrocínio dessa festa...”. E assim por diante.
O povo ali presente, as pessoas que se
submeteram a pagar vinte reais para um evento em espaço mantido pela prefeitura
municipal ficavam sem saber o porquê de a prefeitura municipal ter dado todo o
patrocínio à contratação das bandas e elas terem de pagar ingresso tão caro. E
tal patrocínio não podia ser negado pelos contínuos agradecimentos feitos em
nome do prefeito. Mas o questionamento foi outro.
Antes da festa todo mundo sabia que o evento
seria promovido por particulares, através de organizadores que contratariam as
bandas e cobrariam ingressos para que os interessados participassem. Então se
pergunta: A festa foi particular ou envolveu verba pública? E se foi
particular, por que a todo instante era anunciado o patrocínio não só do
prefeito como da prefeitura?
E eis o motivo maior da indignação do povo:
Como é que eu pago ingresso caro e o locutor e cantores, ao invés de agradecer
ao povo, repetem agradecimentos ao prefeito e à prefeitura? Logicamente que se
fosse uma festa particular não haveria necessidade alguma de agradecer o
patrocínio do prefeito e da prefeitura.
E se foi festa particular com patrocínio da
prefeitura, tudo complica mais ainda, pois o povo acabou bancando parte de um
acordo que não conhece os seus termos nem as suas finalidades. E logicamente
que sobrou muito dinheiro para os organizadores, pois não só venderam ingressos
a preço caro como tiveram seu evento patrocinado por verbas públicas.
Daí que tanto os organizadores com a
prefeitura municipal precisam explicar como se deu essa mistura entre o
particular e o público. Mas o melhor seria que o Ministério Público quisesse
saber como tudo isso foi feito.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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