Rangel Alves da Costa*
O mandacaru, a planta símbolo do sertão, não
alcançou tal fama ao acaso. Dentre as cactáceas, certamente que é a mais
resistente, a mais imponente, ainda que não seja a mais singela. Neste aspecto,
invencível é a cabeça-de-frade com sua predisposição para nascer em qualquer
lugar, até mesmo por cima das pedras, entre as rachaduras, e ter por acima do
seu corpo espinhento e rechonchudo um pequeno jardim de pingentes avermelhados.
Mas o mandacaru também tem flor, e que bela flor a do mandacaru. Nasce
esbranquiçada e vai tomando uma cor amarelada, como anéis ou enfeites que pendem
dos braços estendidos em direção aos horizontes sertanejos. Dizem que os braços
estendidos do mandacaru, sempre em direção ao alto, estão rogando piedade ao
Senhor dos Sertões. É a planta mais religiosa entre todas que vingam na secura
e nos carrascais sertanejos, vez que sempre em gesto de louvação, de prece, de
pedido pelas graças divinas. O que tanto implora? Chuva, terra verdejante, água
nas fontes, paz ao seu mundo de desvalia. É também a mais duradoura entre todas
as cactáceas, pois vai suportando todas as dores das estiagens, todas as
angústias das secas, e, ainda que magra e ressequida, sempre altiva na paisagem
de desolação. Dizem também que quando chegar o tempo de o mandacaru prostrar-se
ao relento sem vida, nenhum olhar, nem de bicho nem de homem, poderá
testemunhar. Simplesmente porque o sertão acabou.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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