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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Palavra Solta: apenas pombos


Rangel Alves da Costa*


Os pombos talvez sejam as mais injustiçadas das aves. A culpa é do homem, mais uma vez. Eis que os coloca como simbolizando a paz, o amor, a cristandade e, por outro lado, lança sobre si toda uma diversidade de malefícios. Quer dizer, o mesmo pombo que está na bandeira da paz é aquele ser perigoso e cheio de bactérias; o mesmo pombo que simboliza a alvura do matrimônio perfeito é aquele expulso de casa a pauladas, varrido de seu ninho a pedradas; o mesmo pombo que simboliza o amor também é avistado como ave que traz no seu corpo, na sua penugem e no seu bico todos os males do mundo. Uma desmedida incongruência. E não somente isso, pois os pombos também remetem à poesia, ao encanto dos jardins, a paz do entardecer. As fotografias mostram os pombos como referências poéticas, de sossego, de ternura. Mas por que o homem tanto insiste em qualificá-lo como a mais doentia das aves, como aquele ser que já chega trazendo doença. Talvez seja mesmo pela simbologia que representa e pelo descompromisso que o homem tem com os símbolos. Ora, ergue a bandeira da paz, coloca dois pombinhos acima do bolo de casamento, mas depois somente a guerra. Tanto na trincheira como no matrimônio.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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