Rangel Alves da Costa*
Os pombos talvez sejam as mais injustiçadas
das aves. A culpa é do homem, mais uma vez. Eis que os coloca como simbolizando
a paz, o amor, a cristandade e, por outro lado, lança sobre si toda uma
diversidade de malefícios. Quer dizer, o mesmo pombo que está na bandeira da
paz é aquele ser perigoso e cheio de bactérias; o mesmo pombo que simboliza a
alvura do matrimônio perfeito é aquele expulso de casa a pauladas, varrido de
seu ninho a pedradas; o mesmo pombo que simboliza o amor também é avistado como
ave que traz no seu corpo, na sua penugem e no seu bico todos os males do
mundo. Uma desmedida incongruência. E não somente isso, pois os pombos também
remetem à poesia, ao encanto dos jardins, a paz do entardecer. As fotografias
mostram os pombos como referências poéticas, de sossego, de ternura. Mas por que
o homem tanto insiste em qualificá-lo como a mais doentia das aves, como aquele
ser que já chega trazendo doença. Talvez seja mesmo pela simbologia que
representa e pelo descompromisso que o homem tem com os símbolos. Ora, ergue a
bandeira da paz, coloca dois pombinhos acima do bolo de casamento, mas depois
somente a guerra. Tanto na trincheira como no matrimônio.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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