Rangel Alves da Costa*
Toda solteirona é ritualística, metódica,
toda cheia de exigências, sistemática demais. Mas não por acaso que seja assim.
Cuida exageradamente de si como se desprezada fosse pelo próprio mundo. Daí gostar
de estar toda pronta, perfumada, pintada, nos trinques. Faz assim para se
sentir bem consigo mesma e para mostrar aos demais que continua bonita, por
cima, cheirosa e apetitosa. Mas tudo fingimento, pois sempre de alma sofrida,
se corroendo por dentro, numa contínua e lamentável desolação. Ao mundo
exterior quer mostrar que não está nem aí para sua condição de titia, de
solteirona, de rejeitada, de mulher no caritó. Mas seu mundo interior é de
fazer chorar e sofrer. Quando se tranca no quarto tudo desaba. Enche-se das
dores do mundo, lamenta pela mocidade distante, entristece pelos não
acontecidos, chora o desamor, a solidão, a condição de lacrada. Quem dera um
homem, um abraço, um beijo, uma safadeza, uma entrega absoluta, uma devassidão.
Tais coisas lhe surgem à mente. E também sofre por recordar um amor antigo, um
belo rapaz que um dia lhe jurou amor, prometeu casamento, colocou no seu dedo
uma aliança, porém desapareceu sem despedida ou sem dizer adeus. Por onde
andará meu amor de um dia? Indaga-se entre lágrimas. E se levanta e segue em
direção à fresta da janela. Noite escura, zunido de ventania, tudo parecendo
adormecido. Mas ela avista o seu amor passando, o seu amor chegando, o seu amor
diante de si. E chora, e sofre, e morre um pouquinho a cada instante assim.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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