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terça-feira, 25 de agosto de 2015

Palavra Solta: flor do passado


Rangel Alves da Costa*


De bom mesmo, a verdade é que o novo só trouxe mesmo o avanço tecnológico. E olhe lá. Nem tudo que chega informatizado possui valia. O restante é um deus nos acuda. Ademais, os modismos, ao invés de inovar, acabam enfeando tudo, através de rituais passageiros de degradação humana e social. Diante de um quadro tal, reconhecidamente contrastante com a força do homem para transformar, só mesmo rebuscando no passado para o alcance de qualquer prazer, alegria, contentamento. Há uma flor no passado que nunca perde o perfume. Há uma flor de antigamente que vive em eterno jardim. Ninguém faz murchar a nostalgia, as recordações, as lembranças. Ora, o novo parece nem mais existir. Os natais de agora não trazem qualquer significação, as missas de agora não produzem qualquer comoção espiritual, os presentes de agora não possuem a singeleza de outros idos, as ruas e vizinhanças de agora são frias e sepulcrais. Havia uma pracinha de proseado ao entardecer, havia uma janela aberta e bela menina entristecida ao umbral, havia cadeira de balanço na calçada e senhoras avistando horizontes com olhar molhado, havia o baleiro passando, o parque com pipoca e algodão doce, a matinê no cinema, a flor colhida em jardim, a fruta caída em pomar. Mas apenas a flor, a flor de antigamente. Quem dera ao menos seu espinho nesse jardim petrificado de agora.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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