Rangel Alves da Costa*
De bom mesmo, a verdade é que o novo só
trouxe mesmo o avanço tecnológico. E olhe lá. Nem tudo que chega informatizado
possui valia. O restante é um deus nos acuda. Ademais, os modismos, ao invés de
inovar, acabam enfeando tudo, através de rituais passageiros de degradação
humana e social. Diante de um quadro tal, reconhecidamente contrastante com a
força do homem para transformar, só mesmo rebuscando no passado para o alcance
de qualquer prazer, alegria, contentamento. Há uma flor no passado que nunca perde
o perfume. Há uma flor de antigamente que vive em eterno jardim. Ninguém faz
murchar a nostalgia, as recordações, as lembranças. Ora, o novo parece nem mais
existir. Os natais de agora não trazem qualquer significação, as missas de
agora não produzem qualquer comoção espiritual, os presentes de agora não
possuem a singeleza de outros idos, as ruas e vizinhanças de agora são frias e
sepulcrais. Havia uma pracinha de proseado ao entardecer, havia uma janela
aberta e bela menina entristecida ao umbral, havia cadeira de balanço na
calçada e senhoras avistando horizontes com olhar molhado, havia o baleiro
passando, o parque com pipoca e algodão doce, a matinê no cinema, a flor
colhida em jardim, a fruta caída em pomar. Mas apenas a flor, a flor de
antigamente. Quem dera ao menos seu espinho nesse jardim petrificado de agora.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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