Rangel Alves da Costa*
Quando os planos não são concretizados e a
realidade se mostra cada vez mais difícil, outra coisa não há a fazer senão
viver de esperanças.
Diriam que ninguém vive apenas de
expectativas, num mundo de ilusão que acaba distorcendo o enfrentamento da vida
real. Mas às vezes não há outra saída.
Situações existem onde o ser humano tem de se
apegar a qualquer possibilidade. Ou assim faz ou se anula, ou se prostrai como
ser passivo e entregue aos desvãos do mundo.
Verdade que as esperanças não são garantias
de nada nem fazem dar por contente aquele que a elas se apega. Mas eis que
surge a ideia de luz no fim do túnel, de expectativa.
A luz no túnel da vida nada mais é que seguir
em frente em busca de saída para os problemas existentes, para as tristezas e
angústias que amedrontam e fragilizam o ser.
Com plena razão aquele que afirma ser melhor
tentar avistar o sol pela fresta a procurar se acostumar com o negrume que se
estende ao redor e dentro da alma.
Como dito, muitas vezes não há outra saída
senão fazer da esperança um sonho plausível. É como uma fé que exsurge como
certeza de que algo bom logo acontecerá.
Neste momento em que o Brasil e a maioria dos
brasileiros passam por tantas dificuldades, a desesperança aos poucos vai se
transformando em desilusão e descrença total.
E não sem razão. Os desmandos políticos, as
corrupções, as negociatas, as propinas, o círculo vicioso dos favores, tudo
isso foi levando o País a um abismo jamais imaginado.
Mas o problema não é com o País, pois este
possui força suficiente para retomar suas forças. O problema é com o povo que
está afundando no abismo no lugar do País.
Mesmo à beira do abismo, o Brasil vai
suportando a tentação de cair de vez. Mas o povo não tem essa força, não possui
qualquer ânimo quando se vê impotente de tudo.
A fragilidade do povo é tamanha que parece
haver perdido a voz, o grito, o poder de indignação. Porém se lança à esperança
antes que o abismo lhe abrace nas profundezas.
É a vontade de não sucumbir de vez que ainda
faz o povo avistar aquela luz no fim do túnel, ou na visão do abismo. Sabe que
não merece submeter-se pelos erros dos outros.
Contudo, coisas existem que não há esperança
que alimente a consciência. Em determinados contexto, não há esperança maior
que faça algo ser algum dia modificado.
Há esperança que o lamaçal da política e dos
políticos seja algum dia modificado? Há esperança que um dia acabe as
corrupções, as improbidades, a roubalheira desenfreada?
Há esperança que os governantes cumpram suas
promessas de campanha e depois de eleitos avistem o povo como seres humanos e
não como vermes que merecem ser pisoteados?
Há esperança de dignidade na saúde, na
educação, na segurança pública, na presteza dos serviços públicos? Há esperança
de que o povo não seja visto apenas como voto?
Desse modo, para muita coisa verdadeiramente
não há esperança. O que se enraíza como mal e é sempre alimentado com novos
malefícios, jamais brotará uma flor perfumada.
Tamanha desesperança no povo que se apega a
qualquer esperança miúda. Diante da impossibilidade de ter mais, acaba lhe
restando o sonho de apenas continuar existindo.
E a esperança pequena se reduz a coisas
mínimas. Ínfimas, pois inerentes ao ser humano, e se tornando imensas perante o
deplorável estado social que vorazmente se alastra.
Daí restar a esperança de a conta de energia
não subir ainda mais, a esperança de poder comprar o remédio, a esperança de
poder ir à feira e voltar com algum alimento.
E também a esperança de não desumanizar-se
tanto perante as desesperanças, a esperança de continuar ao menos com a dignidade
humana que tanto desejam usurpar.
São poucas coisas, poucas esperanças. Apenas
continuar subsistindo, sobrevivendo, suportando as más notícias que todos os
dias surgem como vergonhosa enxurrada.
Não pode mudar a política, não pode mudar os
políticos, não pode mudar os ajustes governamentais que desajustam a sociedade.
Não pode nada. Até morrer está caro demais.
Então não há o que fazer. Viver das mínimas
esperanças é o que lhe resta. E abre a porta desalentado para caminhar pelas ruas
em meio a pessoas que apenas caminham.
Apenas caminham porque não há com o que
comprar, com o que pagar, com o que se manter. E a esperança não possui preço
barato. É sonho. E sonhar pode custar muito caro.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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