Rangel Alves da Costa*
Todas as vezes que deito e fico olhando pra
cima, em direção ao telhado, encontro um mar, encontro um cais. E encontro
muito mais. Há uma pedra molhada, uma onda que vai e que vem, uma gaivota sem
rumo, dois barcos: um já muito distante, nas distâncias azuis, e o outro ainda
na areia, à minha espera. É neste barco que viajo, que percorro ilhas, que
encontro outros portos, que namoro sereias e rezo todas as preces do mundo nos
momentos de tempestades. Mas nem sempre coloco o barco nas águas. De vez em
quando sou gaivota voando distante, entrando e saindo das nuvens, indo além das
marés para pousar no alto das montanhas verdejantes. E deixo de ser pássaro
para ser fiel, deixou de ser o que sou para me prostrar ante Deus como um nada.
E tão leve fico, tão fortalecido fico, que novamente alço pelos espaços
cantando a cantiga de feliz passarinho. Quando não sigo no barco nem sou
pássaro avoante, sou coqueiral de cais ou o silêncio das dunas. Às vezes sou
concha, outras vezes sou apenas o vento. E como é boa esta paisagem no telhado,
esta possibilidade surgida no pensamento e viajada por necessidade de sonhos
bons. Adormeço, mas ainda me sinto lá em cima, no mar, no cais do telhado. E
sempre acordo cheirando a maresia e entristecido porque no meu cais não há
ninguém com flor à mão ou olhos molhados para o abraço de amor.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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