Rangel Alves da Costa*
Recorda do menino Zezé e seu pé de laranja
lima? Sim, aquele mesmo do livro de José Mauro de Vasconcelos. Aquele que fez
amizade tão grande com a árvore frutífera do quintal, com ela conversava e
dividia suas desventuras infantis, e desesperadamente sofreu quando soube que
haviam cortado seu pé de laranja lima. Mas o tal pé de laranja lima é uma
simbologia para muitas outras coisas, para muito daquilo que nos apegamos de
tal modo que tememos de morte a perda ou a separação. Desse modo, há um pé de
laranja numa roupa velha que, mesmo sem uso, não conseguimos nos desfazer. Há
um pé de laranja lima no brinquedo antigo, naquele carrinho de madeira ou boi
de barro, naquela boneca de pano ou lembrancinha desde muito guardada. Há um pé
de laranja nas grandes amizades encontradas pela vida e que tempos perdê-las na
ventania da vida. Há um pé de laranja nas doces recordações, naquelas memórias
que tememos serem apagadas pela borracha do tempo. Há um pé de laranja lima num
álbum de fotografia, numa cartinha já amarelada, num livro de passagem tão
marcante noutros de tempos de confirmação da existência. Um grande amor sempre
será um pé de laranja lima. Perdê-lo é o que mais tememos. E dói apenas imaginar
a frase do garotinho Zezé: faz uma semana que cortaram o meu pé de laranja
lima...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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