Rangel Alves da Costa*
Alguém já disse que o homem sertanejo se
afeiçoa à própria terra. Assim, o caboclo não é somente o sujeito em si, mas
também o bafo quente da chuvarada por cima do chão, o grão de areia que se
desprende do barro das estradas e veredas, o espinho que rama ladeado pela flor
nas distâncias matutas. O sertanejo é assim terra como o próprio chão
sertanejo. Quente, calorento, suado, queimado de sol, tingido de lua e de
entardecer. Sendo terra também é raiz, é broto, é floração, é tronco, é
natureza. Essa junção de homem e terra e terra e homem torna inseparável o ser
vivente de seu meio de existência. A dor da terra é a dor do homem, o sorriso
da terra é a alegria do homem. Quando a terra resseca, esturrica, se vê
desalentada e triste, a mesma feição será avistada no homem. Quando a terra
sofre pelas estiagens e o seu chão resseca de tal modo que a lama se divide aos
pés, no homem também será encontrada tal feição. Ele seca o olho, enruga a tez,
afina o corpo, desponta ossudo, angustiado, entristecido que só. Mas basta que
a nuvem prenhe se aproxime e comece a cair pingo gordo no chão, logo a vida se
vê renascida nos dois: no homem e na terra. E de mãos dadas vão vivendo a vida,
um colhendo do outro sua razão de ser tão sertão.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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