Rangel Alves da Costa*
Não estou triste. Já fui muito triste e hoje
talvez apenas tristonho de vez em quando. Dizem que sofrer caleja, petrifica,
acaba insensibilizando o ser. Não creio nisso não. Quando a tristeza quer
simplesmente chega e desanda tudo. A rocha esfarela, o ferro enferruja, o
diamante se parte. Lembro-me como se fosse hoje da última vez que vivenciei uma
tristeza grande, daquelas arrasadoras. E por besteira. Ela me ensinou a amar e
depois partiu de minha vida. Ainda hoje os lenços estão estendidos no varal da
memória. Mas hoje ao entardecer, alguém olhou em minha direção e perguntou por
que eu estava tão tristeza. Surpreendido com a indagação, apenas disse que não,
que estava apenas refletindo sobre a vida. Mas eu não estava triste mesmo,
apenas tristonho. Ora, não ouço mais um canto de passarinho, não avisto mais
borboletas entrando pela janela, não vejo mais colibri nem beija-flor, nem vejo
jardim com flor. Também não encontro mais as manhãs de antigamente. Abro a
janela e tudo já parece feio demais. Não há paisagem, não horizonte, não há
montanha para o diálogo com Deus. Acendo minha vela junto ao oratório e fico me
perguntando se a prece pode aliviar as dores do mundo. Tenho o silêncio como
resposta. Mas sei que as dores de minha alma sim. E por isso entristeço no
desejo de salvação das almas de outros homens. Sei que eles não desejam assim,
não desejam a salvação, pois tiranizam na destruição. Mas por ser uma justa
dor, aceito apenas entristecido tal sofrimento.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário