Rangel Alves da Costa*
Nada que se aviste no olhar, mas o corpo e os
cabelos sentem sua presença. Não diz de onde vem nem para onde vai. Mas vem e vai.
Mas para onde o vento vai?
Tudo que tem existência tem um destino. O
vento também tem seu destino. Mas qual o destino do vento?
Será que o vento é eterno, será que se finda
adiante, será que renasce a cada curva, a cada transpor de montanha. Ninguém
sabe com precisão. Qual será o seu destino?
Brisa, aragem, sopro, lufada, vento,
ventania, vendaval. Não importa, pois tudo força atmosférica que pelo ar viaja
rumo a determinado lugar. Mas aonde pretende chegar?
Pássaro oculto pelos espaços, asas que
esvoaçam sem mostrar as penas, viajante apressado ou lento que sempre vem,
sempre passa e sempre segue. Onde será seu repouso?
As velas pendem e mudam a direção do barco,
as palhas dos coqueiros se agitam, a concha do mar se abre para o seu segredo,
tudo se embala na sua passagem. Aonde vai?
Aonde o vento vai, aonde vão a brisa e a
ventania? Os cabelos da menina querem seguir seu voo, as folhas se deixam levar,
as saias são levantadas. Mas aonde o vento vai?
O vento vem mansamente ou em açoite, chega de
bem distante, de lugares desconhecidos, mas no seu percurso vai para algum
lugar. Para onde?
O vento nasce em algum lugar, do encontro de
massas de ar sob pressão, e vai tomando feição própria e rumando além, sem
estrada ou caminho. Mas vai a qual direção?
A direção do vento fica na dependência do que
encontrar pela frente, do que lhe permita passar em sobrevoo ou redirecionar
seu percurso. Mas até onde tal viagem?
Difícil saber para onde o vento vai. Mas
possível saber como ele se aproxima, se calmo e sereno, se agitado ou afoito.
Por que não há constância no seu jeito de ser?
Igualmente ao ser humano, também o vento
muda, se transforma. Vento voraz, sedento, amedrontador. Brisa leve, quase
melodia, apenas beijando a face. Para onde ele vai?
Tal qual ser humano, o vento se atormenta e
arrefece, brada e silencia. Destrói quando quer, acaricia quando deseja. Há um
querer próprio no vento. Mas qual segredo guardado?
Há um mistério no vento, há um segredo no
vento. Não fala, apenas zune, apenas canta, apenas entoa a canção das
distâncias. Mas deixa palavras na sua passagem. Por quê?
O vento já desponta sabendo de tudo. Vem de
longe, conhece mundos, conhece realidades, traz consigo notícia e jornal, o
novo e o velho. Mas aonde vai com tanto saber?
Sábio é o vento, disse o profeta. Basta
conhecer seu sopro para saber o que acontecerá. Sempre traz consigo caderno e
livro. Mas nunca fica para explicar. Aonde o vento vai?
Misterioso é o vento, disse o pescador. As
águas apenas dançam na sua passagem, mas de repente tudo pode ser transformar
em desespero. É o vento revirando tudo. Por que assim?
Assim porque em tudo há a inconstância. Tempo
de calmaria e tempo de vendaval. O mar conhece bem o seu significado. Por que se
sabe o que ele faz e nunca para onde vai?
Vento é força, disse o andante saariano. O
deserto se impõe diante de todos, devora resseca, amedronta. Mas a ventania
leva suas areias para onde quiser. Mas para onde?
Vento é angústia e sofrimento, disse a
mocinha entristecida na janela do entardecer. Espera uma carta no vento, uma
flor no vento, mas ele apenas passa. E vai para onde?
Vento é tudo. Nada se esconde de sua força,
de sua chegada, de seu encontro. As portas e janelas se abrem à sua passagem e
depois some num rastro ligeiro. E vai. Para onde?
Como uma sentença do Eclesiastes, a brisa se
transforma em ventania como o vendaval se transforma em calmaria. Sempre se
transforma e vai. Mas para onde vai?
Deixai que os sonhos descubram o destino do
vento. Deixai que as folhas do outono conheçam seu destino final. O homem não
precisa saber. Apenas que o vento vai.
Ou que vai assim como uma vida. Um caminho de
perfumada brisa até chegar o vendaval do adeus. Eis que o vento é vida e morte.
Um sopro que vem e que vai.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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