Rangel Alves da Costa*
A solidão da solidão. Já pensou em tal
solidão? Se ela existe em pessoas, igualmente existe nos seres, nos fenômenos,
nas situações existenciais. Todo mundo sabe que a pedra é o ser mais solitário
que existe. Não só solitária como incompreendida. Imaginam a pedra como algo
insensível, bruto, fechado em si mesmo. Ledo engano. Nada mais terno e afetuoso
que a pedra. A pessoa é sempre acolhida silenciosamente no seu leito e com a
própria pedra pode dialogar e segredar o que desejar. Também o vaga-lume é
solitário e triste. Vejo como terrível a solidão do orvalho, da folha ao vento,
da flor do campo nas distâncias do mundo. Mas creio que ninguém ainda havia
considerado a solidão da solidão. Quando o solitário sai, deixa o vazio, deixa
o silêncio, deixa apenas o espaço, então é a solidão da pessoa que se foi que
fica na solidão. Há um quarto e nele uma pessoa solitariamente amargurada.
Chora, sofre, quer sumir, quer morrer, quer viver um amor desfeito, quer
qualquer alimento de luz. Mas ali só existe a solidão. Então, depois de todo
sofrimento, acaba abrindo a porta e vai em busca de qualquer motivação para
viver. Mas o quarto ficou e nele a solidão existente. A solidão que amargurava
a pessoa ausente simplesmente se vê sozinha, solitária, triste, angustiada. E
que coisa mais triste é a solidão da solidão. Apenas o silêncio da dor e do
sofrimento. E pelo ar aquela terrível sensação de almas acorrentadas que
caminham naquela direção. Mas nada mais que os espectros da absoluta escuridão
da alma daquele lugar, daquele quarto sozinho e solitário.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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