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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Palavra Solta: a solidão da solidão


Rangel Alves da Costa*


A solidão da solidão. Já pensou em tal solidão? Se ela existe em pessoas, igualmente existe nos seres, nos fenômenos, nas situações existenciais. Todo mundo sabe que a pedra é o ser mais solitário que existe. Não só solitária como incompreendida. Imaginam a pedra como algo insensível, bruto, fechado em si mesmo. Ledo engano. Nada mais terno e afetuoso que a pedra. A pessoa é sempre acolhida silenciosamente no seu leito e com a própria pedra pode dialogar e segredar o que desejar. Também o vaga-lume é solitário e triste. Vejo como terrível a solidão do orvalho, da folha ao vento, da flor do campo nas distâncias do mundo. Mas creio que ninguém ainda havia considerado a solidão da solidão. Quando o solitário sai, deixa o vazio, deixa o silêncio, deixa apenas o espaço, então é a solidão da pessoa que se foi que fica na solidão. Há um quarto e nele uma pessoa solitariamente amargurada. Chora, sofre, quer sumir, quer morrer, quer viver um amor desfeito, quer qualquer alimento de luz. Mas ali só existe a solidão. Então, depois de todo sofrimento, acaba abrindo a porta e vai em busca de qualquer motivação para viver. Mas o quarto ficou e nele a solidão existente. A solidão que amargurava a pessoa ausente simplesmente se vê sozinha, solitária, triste, angustiada. E que coisa mais triste é a solidão da solidão. Apenas o silêncio da dor e do sofrimento. E pelo ar aquela terrível sensação de almas acorrentadas que caminham naquela direção. Mas nada mais que os espectros da absoluta escuridão da alma daquele lugar, daquele quarto sozinho e solitário.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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