Rangel Alves da Costa*
Já fiquei assim, na janela, em noite de chuva.
E sei que muita gente fica assim também. Mas não é qualquer um que suporta
tomar tal atitude. É preciso ter coragem para enfrentar as consequências de tal
decisão. O problema não é abrir a janela depois do anoitecer, não é se
posicionar no umbral, não é sentir a chuva caindo ou até receber na face os
vapores molhados. Nada disso, pois tudo muito normal e corriqueiro. O problema
todo reside na intencionalidade do ato. Dependendo do estado de espírito, da
predisposição da alma ou da fluência dos sentimentos, o simples fato de abrir a
janela tendo o negrume à frente já é certeza de encontrar a tristeza, a
angústia, a dor, o desalento. E quando chove lá fora tudo complica ainda mais.
A cada gota que cai é como se surgisse uma recordação, a cada pingo que canta é
como se uma imagem surgisse, a cada respingo recebido é como se um beijo de um
amor distante viesse matar a saudade. Uma poesia terna, porém de dor e de
sofrimento. Ao redor do negrume e da chuva aquela solidão reprimida, aquela
face quase oculta gritando por dentro, aquele ser tomado de lágrimas. E tudo
numa só enxurrada: na chuva lá fora, na chuva por dentro. E os cântaros se
enchem de uma palavra molhada e muda que vai repetindo saudade, saudade,
saudade...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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