Rangel Alves da Costa*
Meu pai era um apaixonado por música caipira,
pela velha viola de pinho ao estilo sertanejo. Também fanático pelo cateretê,
guarânia, toada caipira. Na sua radiola não tocava outra coisa senão Tonico e
Tinoco, Zico e Zeca, Liu e Léu, Cascatinha e Inhana, Tião Carreiro e Pardinho,
Belmonte e Amaraí, Dino Franco e Mouraí, Zé Fortuna, Pedro Bento e Zé da
Estrada, Alvarenga e Ranchinho, Carreiro e Carreirinho, Lourenço e Lourival, e
Tibagi e Miltinho, dentre outros. Gostava de estrada antiga, de violado cheirando
a terra, a café torrado, de porteira rangendo e a bicharada fazendo poeira no
estradão. Por isso mesmo que buscava nas raízes a essência da viola, do canto
plangente, da verdadeira musicalidade sertaneja. Às cinco da manhã e após o
entardecer, os ares sertanejos, a partir da janela de minha casa, eram tomados
pelos ecos das canções de Tonico e Tinoco. “Eu nem sei que adivinhava quando
assim eu te chamava de mulher sem coração...”; “Nestes versos tão singelos,
minha bela, meu amor, a você quero contar o meu sofrer e a minha dor...”;
“Antiga carta guardada que o tempo amarelou, é lembrança do passado que no meu
peito ficou...”. Mas hoje só saudade. Da viola caipira, do violeiro, do
sertanejo apaixonado. E como dói a saudade quando sinto todo o perfume da flor
do passado.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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