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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Palavra Solta: o bicho que vive debaixo da cama


Rangel Alves da Costa*


Desde criança que acredito na existência de um bicho debaixo da cama. Ele vive lá, tenho certeza. Não só debaixo da cama como no telhado. Daí digo logo que não é mentira a história do bicho-papão, do boi da cara preta, do ventão de fogo nas ventas, da bruxa má, do unhão com cara de fome, do assoprador de menino novo e de gente grande também. Hoje, de tanto me certificar de suas existências, não preciso mais que a babá chegue com história de medo para adormecer. Logo no início, quando criancinha, tive medo sim, mas da babá feia e não do bicho debaixo da cama. Quanto mais ela insistia em dizer que se não dormisse logo o bichão vinha me pegar, mais eu fingia dormir só pra ela sair. Depois descia do berço e ia gatinhando vasculhar debaixo e nos arredores do quarto. Olhando para o alto, o muito que pude avistar foi uma estrela com sono e pedindo para descansar um pouquinho na caminha ao lado. Deixei. No outro dia ela voltou, mas apenas para dizer obrigado e também falar que dali em diante não tivesse mais medo de nada, nem de bicho-papão nem de bicho de pé e mão. Hoje eu encontro bicho debaixo da cama, após a janela, quando abro a porta, quando saio às ruas, em todo lugar. Digo que não tenho medo, porém minto. Mas medo do bicho homem e não do bicho-papão.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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