Rangel Alves da Costa*
Desde criança que acredito na existência de
um bicho debaixo da cama. Ele vive lá, tenho certeza. Não só debaixo da cama
como no telhado. Daí digo logo que não é mentira a história do bicho-papão, do
boi da cara preta, do ventão de fogo nas ventas, da bruxa má, do unhão com cara
de fome, do assoprador de menino novo e de gente grande também. Hoje, de tanto
me certificar de suas existências, não preciso mais que a babá chegue com
história de medo para adormecer. Logo no início, quando criancinha, tive medo
sim, mas da babá feia e não do bicho debaixo da cama. Quanto mais ela insistia
em dizer que se não dormisse logo o bichão vinha me pegar, mais eu fingia
dormir só pra ela sair. Depois descia do berço e ia gatinhando vasculhar
debaixo e nos arredores do quarto. Olhando para o alto, o muito que pude
avistar foi uma estrela com sono e pedindo para descansar um pouquinho na
caminha ao lado. Deixei. No outro dia ela voltou, mas apenas para dizer
obrigado e também falar que dali em diante não tivesse mais medo de nada, nem
de bicho-papão nem de bicho de pé e mão. Hoje eu encontro bicho debaixo da
cama, após a janela, quando abro a porta, quando saio às ruas, em todo lugar.
Digo que não tenho medo, porém minto. Mas medo do bicho homem e não do
bicho-papão.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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