Rangel Alves da Costa*
Em texto publicado no site G1 em 18/06/2015
(“Como classificar o regime da Venezuela?”), o jornalista Hélio Gurvitz, após
analisar as medidas antidemocráticas tomadas pelo governo venezuelano, finaliza
com uma pertinente afirmação, seguida de duas interrogações: “Há um momento em
que é preciso chamar as coisas pelo nome. Que nome você daria a um regime
político que implanta essas medidas? Depois do ataque aos senadores
brasileiros, o que mais falta para chamarmos a Venezuela, com todas as letras,
de ditadura?”.
Realmente, fatos, situações e coisas existem
que não se pode dar outra denominação que não aquela que traduza a realidade em
todo o seu contexto. Ditadura é ditadura, tirania é tirania, arbitrariedade é
arbitrariedade, abuso é abuso. Não adianta querer minimizar ou distorcer
realidades quando a contundência dos fatos logo traduz sua significação. Desse
modo, não se pode negar ocorrências quando os fatos não demonstram o contrário.
Ou será que o regime imposto na Venezuela, o denominado bolivarianismo, é
apenas um rígido controle governamental da vida política e social?
Os porta-vozes dos regimes autoritários e
ditatoriais sempre procuram justificativas para a imposição das tiranias e a
transformação do Estado num regime de medo, perseguição e violência. Jamais
reconhecem a feição totalitarista dos governantes, a imposição de autoritarismos,
as violentas repressões praticadas contra instituições e indivíduos, o combate
violento a todo tipo de oposição, a ilegalidade legalizada segundo as
conveniências dos governantes, os absurdos e violações cometidos de forma
odiosa. Não há que se falar em direitos humanos ou respeito aos direitos
fundamentais dos cidadãos.
Contudo, há quem qualifique situações tais
como democracias. É usual aos partidários dos governos de esquerda afirmar que
tais formas de governar se justificam pela luta contra o imperialismo
capitalista, contra as ameaças externas e como garantia da soberania da nação.
E, num total contrassenso com as atitudes tomadas, passam a ter opositores como
as grandes ameaças aos governos e às falsas democracias vigentes em tais países.
E as supostas ameaças acabam servindo como artifícios para prisão de líderes
políticos, fechamento de jornais, perseguição a qualquer um que se ressinta das
atrocidades cometidas.
Neste sentido, ainda hoje os petistas de
vanguarda tratam a ditadura cubana como o melhor regime do mundo, como uma luta
que deu certo contra as ambições capitalistas. Também se negam a discutir as
múltiplas misérias ali existentes, as perseguições e encarceramento dos
opositores, o total desrespeito aos direitos fundamentais do homem. Não só Cuba, mas também com relação ao
bolivarianismo venezuelano e por todo lugar onde um ditadorzinho de meia tigela
esteja entronizado como governante. Para muitos petistas, as republiquetas de
banana existentes pelo continente latino-americano são bons exemplos de como os
governos de esquerda deram certo. Em que?
As pessoas não podem viver mentindo a si mesmas
ou defendendo absurdos por conveniências políticas. É preciso sempre fazer uma
autocrítica para se situar perante a realidade, avistar as verdades do mundo e
não ter medo de reconhecer os erros cometidos. Sempre haverá tempo de fazer com
que as paixões se submetam à razão e avistar a realidade das coisas sem os
olhos da utopia ou do disfarce. No caso brasileiro, por exemplo, há como não
reconhecer a plena falência da gestão governamental? O nome é este: falência. E
falência múltipla de órgãos gestores, de políticas públicas, de combate à
inflação, de seriedade na gestão, de governabilidade.
Ninguém pode continuar enganando o tempo
todo. As máscaras um dia caem e as verdades surgem assustadoras. Quando há
suspeita de que há algo de malcheiroso no desvio de verbas públicas, nas
licitações fraudulentas, nos enriquecimentos repentinos, nos favorecimentos,
dentre outras situações, há que somente encontrar o nome mais adequado para a
safadeza: corrupção, improbidade, gestão fraudulenta, etc. Por mais que os responsáveis
pelas falcatruas tentem, a todo custo, justificar a esperteza, todos os atos
possuem um nome ou uma tipificação penal. E o senso comum vai além e acaba
denominando ladrão.
Desse modo, não adianta tentar omitir o óbvio
ou ocultar o que se mostra evidente. Chamar as coisas pelo nome significa
simplesmente reconhecer a existência de determinada realidade. Quando um
governante diz que não pode cumprir a lei que garante aumento salarial a
servidores, e o faz sob a justificativa de que está no limite prudencial, porém
sem dar provas dos gastos totais do estado ou do município, certamente estará
blefando, simulando uma situação irreal. E mentira é o verdadeiro nome de tal
estratégia ardilosa.
Que nome dar ao judiciário que julga direitos
segundo a vontade do poder? Que nome dar ao governante que descumpre promessas
de campanha e torna sua gestão em egoístas perseguições a determinadas
categorias profissionais? Que nome dar a uma segurança pública que deixa
proliferar pontos de uso e venda de drogas sob a justificativa de que só
interessa agir perante o grande traficante? Tudo isso tem um nome. A sociedade
sabe bem o que isso significa.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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