Rangel Alves da Costa*
O sono é grande demais, porém a renitência de
adormecer é muito maior. Os olhos pesam, a cabeça gira, tudo parece querer
desabar, mas não há como adormecer. Deita, o colchão é macio e a cama imensa, tudo
chamando a uma boa noite de sono. Há também uma música clássica, uma sonata
quase inaudível, apenas para a flutuação nos espaços e a descida já de olhos
fechados e sono profundo. Há ainda um teto onde se viaja entre reinos,
castelos, brumas, fantasias e ilusões. Ou simplesmente carneirinhos cor de
algodão que vão, um a um, pulando as fronteiras do olhar. Tudo pronto para
dormir, mas não dorme. Fecha os olhos e assim permanece até revirar na cama.
Mexe o cobertor, afaga o travesseiro, toma um gole d’água, coloca na boca um
comprimido e novamente se mantem de olhos fechados. Mas nada de adormecer. Já
uma da madrugada. Depois duas, três, e assim por diante. E o sono não chega
porque não adormece aquele que não consegue também fazer adormecer a saudade, a
tristeza, as angústias, as preocupações. Sem querer que assim aconteça, mas de
repente o noturno é envolvido pelo que a mente vai rebuscar no lugar do
silêncio. E os olhos se molham, os passos caminham, janelas são abertas, uma
vontade danada de viver. E adormecer. Mas somente quando a dor extasia a alma é
que o insuportável entorpece o ser. E a pessoa fecha os olhos e adormece o sono
das almas dilaceradas pelo sofrimento.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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