SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 29 de julho de 2015

Palavra Solta: insônia


Rangel Alves da Costa*


O sono é grande demais, porém a renitência de adormecer é muito maior. Os olhos pesam, a cabeça gira, tudo parece querer desabar, mas não há como adormecer. Deita, o colchão é macio e a cama imensa, tudo chamando a uma boa noite de sono. Há também uma música clássica, uma sonata quase inaudível, apenas para a flutuação nos espaços e a descida já de olhos fechados e sono profundo. Há ainda um teto onde se viaja entre reinos, castelos, brumas, fantasias e ilusões. Ou simplesmente carneirinhos cor de algodão que vão, um a um, pulando as fronteiras do olhar. Tudo pronto para dormir, mas não dorme. Fecha os olhos e assim permanece até revirar na cama. Mexe o cobertor, afaga o travesseiro, toma um gole d’água, coloca na boca um comprimido e novamente se mantem de olhos fechados. Mas nada de adormecer. Já uma da madrugada. Depois duas, três, e assim por diante. E o sono não chega porque não adormece aquele que não consegue também fazer adormecer a saudade, a tristeza, as angústias, as preocupações. Sem querer que assim aconteça, mas de repente o noturno é envolvido pelo que a mente vai rebuscar no lugar do silêncio. E os olhos se molham, os passos caminham, janelas são abertas, uma vontade danada de viver. E adormecer. Mas somente quando a dor extasia a alma é que o insuportável entorpece o ser. E a pessoa fecha os olhos e adormece o sono das almas dilaceradas pelo sofrimento.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: