Rangel Alves da Costa*
Quando a gente é jovem é tudo diferente. Tudo
é possível, ainda que irrealizável. Tudo é sonhado, ainda que jamais alcançado.
Tudo é desejado, ainda que jamais experimentado. Mas a fase mais bonita da
vida, pois saída da pureza da meninice para encontrar as fronteiras das
possibilidades. Quem já foi jovem e viveu sua intensidade conhece muito bem o
que é semear. Quem já foi jovem e não aproveitou sua idade ainda se pergunta em
qual caminho deixou sua felicidade. Quando a gente é jovem inventa de beijar na
boca, de namorar de verdade, de se apaixonar. Faz do amor primeiro uma
eternidade no pensamento. Quando a gente é jovem gosta de inverter a razão dos
mais velhos. Quanto mais os pais pedem para fazer diferente, mas insiste-se em
preocupá-los. Quando a gente é jovem gosta de ser poeta, de escrever em diário,
de ser romancista com a paixão do outro lado da rua. Mas como é bom ser jovem.
Não há mais bola de gude nem cavalo de pau, não mais casinha de boneca nem
boneca de pano, mas há um frescor indisfarçável na alma que ainda enlaça com a
inocência e a pureza. Por isso que o jovem erra tanto, pois não sabe se já
cresceu ou se ainda é criança. Mas de repente dá uma de libertário, deixa o
cabelo crescer, coloca uma mochila nas costas, e descalço caminha sem destino.
Até voltar depois do cansaço e das lições do tempo. E em tudo o medo do
rompimento, de chegar um dia que o adulto comece a apagar todos os passos
passados. Não queria que fosse assim. Preferia apenas sonhar, apenas viver seu
mundo. Apenas ser jovem. Mas eis que a vida é feita de tempo. E o tempo segue.
E o jovem também tem seus dias de outono.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário