Rangel Alves da Costa*
Existem chuvas e chuvas. A chuvarada que se
derrama nas ruas e enche os leitos e escorre pelo asfalto, e a chuva que vai
caindo como música ao entardecer e noite adentro. Os sentimentos não são
despertados pela chuvarada, mas sim com os pingos que parecem cadenciados nas
sombras lá fora. E que bela canção é a da chuva caindo ao anoitecer. E que
música mais comovente ecoa dos pingos caindo, molhando a vidraça, espargindo
pelas janelas entreabertas, banhando a alma como se debaixo da nuvem estivesse.
Contudo, é momento que não descuida de despertar pulsantes sensações. Parece
caído de cima, despejado pela nuvem da noite, mas é instante de abrir velhos
baús, rever velhas fotografias, recordar beijos e abraços, lembrar-se do
aquecimento de outro corpo em friozinho igual ao sentido. E que saudade, que
nostalgia, que vontade de abrir a porta e correr aos braços de alguém. Mas só
se permite entristecer, reviver o passado, sentir a aflição do instante, chorar
por dentro e por fora. E de repente a nuvem no olhar e as águas se derramando
em enxurrada.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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