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terça-feira, 14 de julho de 2015

Palavra Solta: as mãos de minha mãe


Rangel Alves da Costa*


Hoje, comendo um pedaço de bolo de leite, lembrei-me das mãos de minha mãe. E recordarei de seus braços, suas mãos e seus dedos, sempre que me veja diante dos seus afazeres e ofícios de antigamente, mas principalmente na sua maestria em preparar gostosuras, cortar os alimentos, mexer carinhosamente a panela e saber, sem precisar beliscar a comida na ponta do dedo, que tudo já estava no ponto. Até das mãos batendo na bunda do menino danado, teimoso, é doce recordar. Ainda hoje sinto os seus dedos desgrenhando meus cabelos, depois alisando, percorrendo suas entranhas, fazendo cafuné. Enquanto as mãos passeavam sobre mim, de sua boca saía uma estória de era uma vez. Mãos e dedos firmes, os da minha mãe. Lavava, batia a roupa, depois estendia um monte de panos no varal. As mesmas mãos que também passavam, costuravam, cuidavam das coisas da casa como se estivessem diante de flores frágeis. Não posso esquecer-me da comida na mesa, do bolo de macaxeira, de ovos ou de qualquer coisa, pois tudo sempre delicioso. Doce de leite com bola ou sem bola, arroz doce, mungunzá, cocada. Gostava de fazer lombo assado. Cozinhava um pedaço grande de carne, com recheio de toucinho e verdura, depois cortava em fatias e levava ao forno. Galinha de capoeira, baião de dois, pudim de coco. Um dia, mesmo minha mãe ainda sendo muito nova, suas mãos começaram a fragilizar. O corpo inteiro ficou assim, enfraquecendo cada vez mais, até que suas mãos foram dobradas sobre seu peito e um rosário de Deus tristonho dizendo adeus.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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