Rangel Alves da Costa*
Houve um tempo que avistar uma calcinha era
motivo de enrubescimento e de coisas mais. A rapaziada parecia noutro mundo
quando uma donzela sentava de modo tal a deixar à mostra um filetizinho da peça
mais íntima. Geralmente florida e rendada, pois costume que moça séria usasse
calcinha larga e até com babados. Por isso mesmo que de vez em quando aparecia
um jardim florido numa sentada mais descuidada. E de boca em boca a notícia
ganhava as ruas: vi a calcinha de sicrana, vi a calcinha de beltrana. Mas nada
igual a avistar a calcinha estendida no varal. No pensamento mil ilusões, cenas
estonteantes, um verdadeiro festim de nudez e prazer. Ora, não havia a
sem-vergonhice de hoje nem a mulherada andando praticamente pelada pra cima e
pra baixo. Ademais, num tempo de namoros na presença dos pais, de carícias
somente nas mãos e alianças de compromisso e de casamento, pensar em ter a mocinha
nua era verdadeiramente um sonho sem fim. Daí que muito molecote, rapazote e até
gente de mais idade, tudo fazia para avistar a calçolinha estendida no varal do
quintal. Era como se estivessem perante o sexo nu da donzela. E muita calcinha
foi levada às escondidas. Muito donzelo até casava, com lua de mel e tudo, com
a rendadinha e florida. Tudo na volúpia ilusória, mas tão sonhada e desejada.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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