Rangel Alves da Costa*
Tem gente que parece viver com raiva do
mundo. E há um monte de pessoas assim. Uma gente que já amanhece raivosa, com
cara feia, desconfortável a todos. Uma gente que não dá um bom dia ou boa
tarde, que jamais se mostra contente com qualquer coisa, que sempre olha para o
outro ou com desdém ou rancor.
Creio que não seja genético nem de
aprendizado de vida, mas tão somente um desejo próprio de ser pessimista sobre
tudo, de ser ruim ao extremo, de ser verdadeiramente insuportável. Cria-se uma
redoma e jamais deseja que alguém se aproxime mostrando amizade, com pretensão
de apoio ou apenas para dialogar. E se guarda e se fecha nessa redoma vazia e
dela só sai para ir espalhando seus maus humores, suas discórdias, suas
indiferenças.
Infelizmente há muita gente assim. Uma gente
que jamais pronuncia qualquer coisa que seja boa, que vive no pensamento do
quanto pior melhor, que silenciosamente roga para que nada dê certo com o
outro. Uma gente que mente com o único intuito de macular a imagem de alguém,
que logo cuida de espalhar tempestades onde haja calmaria, onde reine a
bonança. Ora, sendo infeliz consigo mesma, logicamente deseja que todo o resto
do mundo viva sob o manto da infelicidade.
Gente há que parece não conhecer ninguém,
vive distanciada de todo mundo, nega até mesmo o seio familiar. Uma gente
difícil demais de se lidar, pois sempre revoltada com tudo, inacessível, que
nunca está pronta para ouvir uma boa palavra. É uma gente ignorante, arrogante,
egoísta, dona demais de si mesma e de nada. Do jeito que vive e do modo como
critica as atitudes do próximo, até parece viver num estado de perfeição.
Contudo, apenas fingimento para não ter de enfrentar o espelho da própria alma.
Sim, o espelho da alma porque toda alma nasce
bondosa e assim permanece no íntimo do indivíduo. O que o sujeito vai mudando é
a sua visão exterior de mundo, sua noção de como as realidades devem ser
absorvidas e vivenciadas. Daí que o íntimo do sujeito nem sempre reflete suas
atitudes exteriores. Na verdade, há no ser humano várias vertentes num único
ser. Há aquele que se impõe perante os outros, forçando seu íntimo jeito de
ser. Há aquele que permanece correspondendo aos desejos da alma. E há aquele
que simplesmente se transmuda segundo a conveniência da situação.
Em determinadas pessoas, contudo, o que
somente se observa é aquela feição mais bruta, mais rude, mais ignorante, mais
impenetrável. São pessoas que não refletem sobre sua condição de insociabilidade,
sobre o relacionamento com os demais, sobre seu jeito tão intragável de ser e
conviver. Pessoas assim vivem semeando a infelicidade, bem como vivem única e
exclusivamente para dar vazão à imprestabilidade na vida. Negam-se a sorrir, a
ser agradáveis, a serem cordiais, a serem pessoas comuns.
Muitas pessoas sequer se importam que existam
pessoas assim, pois simplesmente as ignoram. Outras buscam a todo custo
compreender as razões de tanta dureza no coração, de tanta insensibilidade, de
um comportamento sempre preparado para maldizer a vida e os feitos do outro. Contudo,
difícil é não ter de lidar com tais apatias e antipatias. De fato, encontrar
alguém conhecido e não poder sequer cumprimentá-la por medo de uma inesperada
reação, não é fácil de ser assimilado por qualquer um.
Mas enquanto isso elas permanecem por aí
destratando a todos, espalhando desavenças, proliferando suas arrogâncias.
Difícil saber se estão doentes, tristes ou simplesmente raivosas, pois sempre
com as mesmas feições. Também difícil sorrir para uma pessoa assim ou mesmo encontrá-la
pelas esquinas. A qualquer momento uma felicidade pode ser destruída por um único
olhar que parece ter avistado um inimigo. E por isso mesmo quer destruí-lo.
Elas existem e estão por aí. Mas deixai que
vivam seus infortúnios. Assim como se deve fugir do cão raivoso, também se deve
evitar encontros com pessoas sem Deus, sem paz e sem fé.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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