Rangel Alves da Costa*
Quem quiser que coloque sua gravata
borboleta, seu fraque e seu preciosismo, entre devagar numa chiqueza de
restaurante e acene pedindo o menu. E escolha dois grãos de arroz, um dedal de
comida de nome estrambólico com um fiozinho dourado por cima, depois pague os
olhos da cara e saia de lá ainda mais faminto. E sem comer o quase nada, pois é
feio a riqueza deixar o vazio no prato que já chega quase vazio. Quanto? Um
vinho, o prato, uma água importada, o serviço da casa, o garçom, então tudo
fica em torno de mil reais. Quer dizer, muito mais do salário daquele que come
muito melhor. E come melhor porque se alimenta sem frescura, come comida de verdade,
daquela de dá sustança. E não há mistério nem nome esquisito para a comida de
sempre, nascida diretamente da cozinha, quando não do fogão de lenha. Carne
frita, carne torrada, tripa assada, ovo de galinha com banha, ovo mexido com
toucinho, feijão com bucho ou toucinho, arroz branco, sardinha, salsicha, o
resto da panela de ontem, a invenção do dia. Muita comida assim, porém não no
mesmo dia, pois a cada dia uma coisa e sempre acompanhado de farinha. Ao invés
de vinho o ki-suco, a tubaína, a cajuína, água de moringa, qualquer coisa. E a
pessoa come tanto e tão bem que dá vontade de fazer bolo de feijão com a mão,
molhar no molho apimentado e saborear sem remorso. Eis a comida simples, sem
frescura, o prato do barraco na feira, da cozinha humilde, da verdadeira mesa
brasileira.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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