Rangel Alves da Costa*
Nos tempos idos, principalmente na gestão do
prefeito Alcino Alves Costa, a cidade de Poço Redondo pôde se orgulhar de belas
e floridas praças, fonte luminosa e bancos convidativos ao deleite ao
entardecer ou na prosa das sombras do dia. Contudo, com o tempo passando e a falta
de conservação, bem como o descuido com as plantas, a jardinagem e os
equipamentos de lazer ali presentes, tudo foi ficando feio e tomando a feição
de um sertão arenoso e esturricado.
Lamentável que tenha acontecido assim.
Provado estava que era possível manter a cidade embelezada, com verde pujante e
espécies floridas, ainda que tudo fincado na mais autêntica região sertaneja.
Era realmente uma situação até contrastante, vez que a seca devorando tudo ao
redor e as praças mais parecendo de um jardim sulista. Assim principalmente na
antiga Praça Arnaldo Rollemberg e na Praça da Matriz. Aquele paisagismo
inusitado era verdadeiro orgulho para a maioria dos poço-redondenses.
O que se tem hoje nem parece com os tempos de
outrora. Como ocorreu em muitas situações, principalmente na negligência dos
administradores em tornar a sede municipal mais atraente e convidativa, também
ocorreu com as praças. Poço Redondo, aliás, talvez seja a única cidade do mundo
cuja praça principal, porque da matriz, não contenha absolutamente nada que se
aponte que ali existe um gestor público que se preocupa com a melhoria do
visual da sede municipal.
Ao menos a melhoria do visual da cidade,
repita-se, e nada irrealizável a uma prefeitura que enriquece tanto a tão
poucos em detrimento do restante da população. A bem da verdade, não é por que
Poço Redondo seja um município sertanejo, cravado no semiárido e constantemente
afetado por prolongadas estiagens, bem como por ter sua economia fragilizada
por falta de mercado de trabalho, que a cidade tem de se mostrar como o espelho
da feiura e da pobreza.
Enquanto a cidade padece de todos os males, o
atual gestor – num aviltante desrespeito à população carente e a todos que
ficam privados das melhorias essenciais – prefere ostentar seu jet-ski pelas
águas ribeirinhas e em tours distantes. Quer dizer, um gestor que cresceu
politicamente lutando pela terra, agora se compraz em abrir ondas pelos
caminhos das águas. Só mesmo em Poço Redondo. Mas bem merecido que seja assim.
O pior é que o futuro será semelhante ou pior, vez que o povo assim deseja:
tudo mundo fala, mas depois se ajoelha!
Por isso que andar pelas ruas e praças da
cidade provoca um desalento danado. Não há nada, absolutamente nada que alegre
o olhar, que renasça o sentimento de orgulho, que diga que vale a pena morar no
lugar ou ali chegar como visitante. Para se ter uma ideia, a praça do São José,
recentemente construída pelo estado e entregue à administração municipal, nem
mais parece com aquela maravilha de pouco tempo atrás. Está completamente
abandonada, servindo até para que moradores estendam varais de roupas.
Inadmissível que seja assim. Será que alguém vai ter de chamar o Chaplin
Colorado para salvar a cidade?
Mas nem tudo é desilusão. Felizmente. E a
prova de que tudo pode ser feito diferente está demonstrado num simples
canteiro de rua. Sim, num pequeno trecho da Rua Manoel Pereira, entre a Gustavo
Melo e a também abandonada e feia praça da feira. É neste trecho que mora Dona
Mazé, mais conhecida como Dona Mazé Crente, uma senhora que chegou à cidade
pelos idos dos anos 70 e abraçou o novo lar como seu berço de nascimento.
É neste trecho que Dona Mazé mantém e cuida de
um canteiro que contrasta com tudo que há em Poço Redondo. Não há tempo ruim,
de seca devastadora, nada que faça com aquele canteiro fique abandonado ou mal
cuidado. A qualquer tempo e em qualquer época, o olhar do caminhante encontrará
uma formosura sem igual: plantas de diversas espécies, flores e cores. Cuida de
seu canteiro como se fosse de um filho pequeno, mas inegáveis são os
maravilhosos frutos de toda essa dedicação.
Desse modo, o jardim sempre florido de Dona
Mazé serve como exemplo de que tudo é possível ser feito quando se deseja
administrar bem uma cidade, ainda que empobrecida e situada no semiárido. Mas
não se pede aqui que a cidade inteira passe a ter a feição do canteiro
primaveril de Dona Mazé, apenas que seja cuidada com o zelo que sua população
tanto deseja e merece. Ademais, toda cidade, grande ou pequena, possui uma
praça de apresentação, e por que não Poço Redondo?
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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