Rangel Alves da Costa*
Segundo a Bíblia, dá aos pobres e
necessitados é aproximar-se da bondade de Deus. Desse modo, a esmola se
assemelha à prática do bem para estar em comunhão com os ensinamentos sagrados
e a busca da salvação através da misericórdia. Ao menos assim a esmola alargou
seu prestígio durante muitos anos, quando pessoas realmente necessitadas se
lançavam aos humilhantes afazeres de estender à mão em clemência. Contudo, no
passar dos anos e o surgimento de muitos espertalhões, o que se viu foi um
deslavado uso da mendicância para fins escusos. E através dos meios os mais
ardilosos. Muita gente se traveste de mendigo e se estende nas portas das
igrejas com a cuia ao lado. Outros até fingem doenças, quando colocam panos
vermelhos nas pernas para fingir ferimentos. E ainda outros simplesmente pedem
por gostar de pedir, como vício ou falta do que fazer. Tais práticas prejudicam
muito aqueles verdadeiramente necessitados e que não se lançam à humilhação de
pedir se não estiverem realmente na miséria. Há gente que nem precisa pedir
para que se conheça a sua desvalia. Há gente que nem precisa estender a mão
para que se conheça sua sofrida sobrevivência. Contudo, em muitas situações fica
realmente difícil saber que é pobre ou apenas fingidor. Já conheci alguns que
jogavam fora o pão recebido, pois só queriam dinheiro. Conheci outros que eram
verdadeiros investidores, vez que iam juntando as esmolas e construindo
verdadeiras vilas. Passavam a receber aluguel, mas continuavam pedindo. Por
isso mesmo que ninguém mais tem certeza de quem é cego ou não, quem é cocho ou
não, quem está faminto ou não. Na verdade, difícil mesmo é saber quem é que não
está propenso à esmola daqui em diante. Do jeito que está a situação do país,
não há porta de igreja que caiba o número de desvalidos de tudo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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