Rangel Alves da Costa*
Gosto das palavras de quase-silêncio. O
quase-silêncio das palavras é o mais audível e silencioso das palavras.
Conversar sozinho, eis o quase-silêncio das palavras. Nada mais encantador,
realista e verdadeiro do que o diálogo do sujeito consigo mesmo, ainda que sua
voz seja ouvida como um diálogo qualquer. Há quem veja nisto um sinal de
insanidade, de pouco juízo ou de maluquice mesmo. Contudo, diferentemente do
imaginado, é no conversar sozinho que há o encontro entre o pensamento e a
palavra, entre a imaginação e a verbalização e entre a voz interior e a
expressão exterior. Ademais, as pessoas conversam muito mais sozinhas do que
qualquer um possa imaginar. Quase todo mundo solta sua voz de quase-silêncio.
Fala sozinho no banheiro, enquanto lava ou passa a roupa, quando está
caminhando, quando está sentando ao entardecer na calçada, enquanto mira o
horizonte e as vastidões do mundo tão vasto. Não são palavras desconexas nem
acasos incompreensíveis, mas expressões que traduzem ideias claras. Talvez a
boca não tenha encontrado um interlocutor à altura de palavras tão importantes
que resolve se expressar sozinha, aos ouvidos do vento e da própria pessoa. Mas
esta nunca ouve o que diz. Como a boca que se articula sozinha, também sozinhos
os ouvidos deixam que tudo aconteça sem interferir nas suas razões. Melhor
assim, pois nem tudo que o homem diz nem ele mesmo é capaz de ouvir.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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