Rangel Alves da Costa*
Talvez eu seja diferente de muitas pessoas,
pois gosto de coisas que causam aversões e repulsas. Difícil alguém gostar de
solidão, de tristeza, da noite em pleno breu, da chuvarada caindo em cima do
telhado. Até de relâmpago, trovão e trovoada eu gosto. Admiro tudo isso, porém
na justa medida do suportar. Quer dizer, gosto daqueles instantes solitários e
que chegam acompanhados de um tantinho assim de tristeza. Creio que um tiquinho
de tristeza não faz mal a ninguém, pelo contrário. A tristeza dosada é como o
espírito e a alma meditando sobre os inevitáveis da vida. E o que a gente não
pode fugir de sentir? Por mais que se omita, tente esconder ou negar, a verdade
é que ninguém pode fugir da lembrança, da recordação, da saudade, do retorno
aos tempos idos. E dificilmente uma recordação não chega trazendo um tantinho
assim de tristeza. Não precisa sofrer, não precisa chorar, não precisa se
desesperar, mas apenas entristecer um pouquinho. Ou mesmo um chorinho de leve,
por dentro ou sem derramar no olho, apenas para amoldar o instante à paisagem
do olhar que vai sumindo no horizonte. Vai sumindo no entardecer, nas cores
abrasadas do pôr do sol, entre as nuvens que se preparam para abraçar a lua.
Mas é preciso ter muito cuidado. Muitas vezes a revoada do entardecer chama
também à partida. E a pessoa viaja tão distante que, sem perceber, já está
naufragando num mar sem fim ou perdida num horizonte de sofrimentos. Será
preciso reaprender a voar para retornar e tornar a sua tristeza apenas num
tiquinho assim. Uma pontinha de quase nada.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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