Rangel Alves da Costa*
Os lobos uivam nas noites das solitárias
estepes. E são gemidos tão lamentosos e aflitivos que se imagina a grande dor
da floresta. Triste, muito triste ouvir os uivos dos lobos solitários. Mas os
ecos fazem lembrar outros uivos, outros berros, outros lamentos. Na dor, na
tristeza, na angústia, não há diferença entre os canídeos e o homem. E este,
sem mais poder fingir o silêncio, sem mais suportar reter intimamente a
aflição, também sobe nas suas montanhas para soltar seus gritos lancinantes.
Mas as montanhas ou as estepes do homem não despontam em meio ao negrume da
natureza, pois em qualquer lugar, principalmente nos seus recantos de solidão.
A qualquer hora do dia, mais comumente depois do entardecer em diante, eis que
o homem se transforma em lobo para o seu gemido. Não pode falar, não pode
chamar pelo nome, não pode abraçar, não pode ter aquilo que deseja, se vê
atormentado nas horas lamuriosas, e então procura uma lua na mente, avista qualquer
auréola na cegueira do olhar, mira o inexistente e solta sua voz. Um grito de
dor, um uivo aflito, um lobo sofrido chamado homem.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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