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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 30 de julho de 2015

Palavra Solta: lobos uivando


Rangel Alves da Costa*


Os lobos uivam nas noites das solitárias estepes. E são gemidos tão lamentosos e aflitivos que se imagina a grande dor da floresta. Triste, muito triste ouvir os uivos dos lobos solitários. Mas os ecos fazem lembrar outros uivos, outros berros, outros lamentos. Na dor, na tristeza, na angústia, não há diferença entre os canídeos e o homem. E este, sem mais poder fingir o silêncio, sem mais suportar reter intimamente a aflição, também sobe nas suas montanhas para soltar seus gritos lancinantes. Mas as montanhas ou as estepes do homem não despontam em meio ao negrume da natureza, pois em qualquer lugar, principalmente nos seus recantos de solidão. A qualquer hora do dia, mais comumente depois do entardecer em diante, eis que o homem se transforma em lobo para o seu gemido. Não pode falar, não pode chamar pelo nome, não pode abraçar, não pode ter aquilo que deseja, se vê atormentado nas horas lamuriosas, e então procura uma lua na mente, avista qualquer auréola na cegueira do olhar, mira o inexistente e solta sua voz. Um grito de dor, um uivo aflito, um lobo sofrido chamado homem.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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