Rangel Alves da Costa*
A vida tem seu viés. Os caminhos são
diferentes, as pessoas desiguais. A pobreza é viés caminhando ao lado da
riqueza, a miséria está na mesma estrada que a bonança. Porém, uns com tanto,
outros sem nada. No mesmo ser humano o contraste e o absurdo. Uns com ouro nos
dedos das mãos e outros com lata velha servindo de panela. Mas há de ser sempre
assim. O que não muda é o sentimento. Ou muda, para se ter a certeza de que
quanto mais corações enaltecidos de pessoas empobrecidas mais corações
insensíveis de pessoas poderosas. Mas há de ser assim, pelo viés da vida há de
ser assim. Tão pobre e tão feliz. Tão rico e tão infeliz. Você gostaria de uma
xícara de café ao lado da humildade ou um chá na mesa da arrogância? Você
gostaria de um proseado ao entardecer ao lado de um singelo sertanejo ou o
encontro com aquele que sempre o desconhece? Na mesa do pobre não há sobremesa
nem entrada, quando muito pão do dia a dia. E quando muito. Mas é neste viés
que a vida se mostra verdadeira. E tão verdadeira que mais humana, mais
amigueira, mais cordial. A porta e a janela nunca estão fechadas, basta chegar
para encontrar um copo d’água na sede, um naco de qualquer coisa na fome, um
alento na alma. Não dá mais porque não tem. Mas nem precisa oferecer tanto.
Neste viés da vida, nesta vida enviesada, basta a certeza de que ainda existem
pessoas de carne e osso. E também coração.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário