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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Palavra Solta: imaginação e palavra


Rangel Alves da Costa*


A palavra, por mais realista que surja, jamais traduz a imaginação, o pensamento, a ideia. E quando é escrita então. Na escrita a palavra se esconde, se amedronta, fica querendo fugir. Mas há uma explicação: quando se escreve não se tem a liberdade de expressar o que vem à mente. Até que a pessoa se esforça, tudo faz para descrever exatamente aquilo enraizado no pensamento, mas sempre sai um tantinho diferente. E principalmente quando a escrita é literária, eis que já nasce direcionada. Então tudo complica. O escritor quer dizer uma coisa, porém sua construção não permite que seja assim. Tantas vezes lhe surge uma ideia tão bela que se desenvolvida daquele modo seria de magistral criação, mas se vê impedido pela forma, pela gramática, pela estética, pela suposição da aceitação ou não do leitor. Seja literária ou não, a verdade é que a escrita já nasce capenga. Acaso nascesse pura seria muito mais inteligível, vez que sentimento escrevendo emoção. Bastaria que o escrevente, em primeiro lugar, não procurasse rebuscar o que lhe surgiu tão singelo. Ora, se vai descrever um outono não precisa enveredar pelos idílios das quatro estações, em termos comparativos e complexos. Uma flor é uma flor. E por que se meter a descrever Versalhes? Não adianta. Se quero descrever uma casinha de cipó e barro tenho que avistar o cipó e sentir o barro. Ou faço assim ou sai diferente. Nunca me atrevo a inventar demais. Meu pensamento conhece o que seja beijo, minha boca um dia já sentiu sua presença. E não posso agora dizer sobre um ósculo relvado no lume.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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