Rangel Alves da Costa*
A janela da tarde é o que de melhor expressa
o sentimentalismo da solidão. Quando uma donzela toma o seu banho ao
entardecer, veste seu vestido de chita, coloca flor no cabelo e se perfuma de colônia
ou lavanda, e depois se põe entristecida sobre o umbral da janela, é porque
necessita que sua solidão encontre algum caminho no mundo lá fora. Os olhos não
negam, está entristecida demais. E o olhar que se alonga sobre os horizontes
leva palavras e vozes, sussurros e gritos, desejos e vontades, sonhos e
ilusões, tristezas e aflições. Quer um príncipe encantado, quer que seu perfume
seja sentido por um moço bonito, quer que sua boca seja beijada e seu batom de
romã sentido na grandeza do amor. Se tudo acontecesse assim não ficaria tão
triste. E se todo dia assim acontece, ao mesmo horário e no mesmo umbral, é
porque a solidão se prolonga devastando a alma. Mas é tão jovem, tão bela, tão
cheia de encanto e vida, que somente os desígnios possuem as respostas para
tamanha desolação. Espera-se que um dia a janela da tarde não seja aberta para
a mesma feição de tristeza, e sim para que alguém com uma bela flor estenda a
mão à bela menina. Também uma menina flor.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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