Rangel Alves da Costa*
Na verdade, não há pai. Na verdade, não há
filho. O filho é pai, o pai é o filho. Dependendo do instante de vida, o pai é
a criança, enquanto o filho é quem lhe deve cuidado. Também dependendo do
percurso, o filho continuará sempre criança, enquanto o pai jamais terá tempo
de envelhecer. Mas não é só, em todo filho se enraíza um pai desde criança, e
em todo pai igualmente enraíza a criança que é o seu filho já adulto. E mais: o
pai nunca é apenas pai, segundo uma idade e uma responsabilidade. O pai é a sua
idade e também mais novo e muito mais velho. Mais novo porque também na idade
do filho para compreendê-lo e mais velho porque tem de se alicerçar na
sabedoria antiga para melhor cuidar do seu. O filho também na sua idade e na
idade do pai e talvez do avô. O filho que deseja ser pai não deixa de se
espelhar desde já na postura do pai, enquanto ser cuidadoso para com o seu, e
também na feição de seu avô, pois neste a síntese de tudo. Ademais, o pai olha
para o filho e talvez se sinta um avô. O filho diante do pai também imagina o seu
amanhã tendo um filho diante de si. Não será filho, mas pai. O pai já avô, mas
nada que faça com que todos deixem de ser, ao mesmo tempo, o filho, o pai e o
avô.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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